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  • Foto do escritorVinicius dos Santos Xavier

Universo Milton. Por ocasião dos 80 anos de Milton Nascimento

Atualizado: 20 de ago.


A sonoridade miltoniana das melodias simples e sofisticadas é recheada de influências, e com elas não se confunde. Tem Beatles, via Lô e Beto; tem maracatu, baião, frevo, samba, bossa; tem Caymmi, Caetano e Gil, tem Tom Jobim e Chico, tem jazz, tem batuque negro, congada

Publicado originalmente no site Contrapoder


Não há como definir Milton Nascimento. No ano em que ele se despede dos palcos – já estando mais que cravado na história –, qualquer homenagem ou lembrança não dá conta de tudo que ele foi, é e continuará sendo. As gerações vindouras terão de saber que tivemos, nas terras das Minas, um negro que só não foi rei porque abominava qualquer relação de hierarquia; que poderia ter sido rei ou qualquer outra coisa que lhe conviesse: foi músico; acima de tudo, foi músico brasileiro, para nossa sorte!


Em relação à música brasileira, ele é único; na música mundial, é um universo. A sonoridade miltoniana das melodias simples e sofisticadas é recheada de influências, e com elas não se confunde. Tem Beatles, via Lô e Beto; tem maracatu, baião, frevo, samba, bossa; tem Caymmi, Caetano e Gil, tem Tom Jobim e Chico, tem jazz, tem batuque negro, congada. Tem tudo e, ao mesmo tempo, não é nada disso em particular.


A constelação de Milton, que foi dando colorido à música mineira-universal, tem o Recife de Naná e Novelli, tem a mescla de interior de São Paulo e Rio de Janeiro de Paulo Moura; tem os Caymmi, Alaíde Costa, Joyce Moreno, Luiz Alves e Robertinho Silva, Luiz Eça e Eumir Deodato; tem as Minas de Wagner Tiso, seu primeiro parceiro, tem Toninho Horta, Nivaldo Ornelas, Tavinho, os Borges – Márcio, Lô, Telo… –, tem Beto Guedes, Fernando Brant, Ronaldo Bastos…


E tem também, nesse universo que vai sempre se expandindo, Herbie Hancock, Wayne Shorter, George Duke, Pat Metheny, David Sanborn, Stanley Turrentine – para ficar só em alguns. Tem a música da América Latina, tão bem representada na mistura com Mercedes Sosa. Tudo isso saindo de Três Pontas. É um feito! Não há como definir Milton.


A musicalidade que se formou é tão única e universal que encantou o mundo todo. Milton, singelo e simples, algo tímido, libera-se todo em sua música. Não há definição.


Da Estrela, no centro desse universo, deu-se vazão aos mais belos arranjos, às mais diversas interpretações, misturas, releituras: a graciosidade de Naná e Paulo Moura em Carlos, Lúcia, Chico e Tiago (Milagre dos Peixes)[1]; o impressionante improviso de Nivaldo Ornelas em Beijo Partido (Minas)[2]; o Milagre dos Peixes com Wayne Shorter(Native Dancer)[3]; o Cravo e Canela de George Duke (A Brazilian Love Affair)[4]; a Canção do Sal de Stanley Turrentine (Salt Song)[5]; a Vera Cruzd e Milton com Herbie Hancock, Pat Metheny, Jack DeJohnette, Ron Carter (Angelus)[6]; tem a alegria de Naná e o improviso de David Sanborn em Cravo e Canela[7], dentre outros.


A dimensão de Milton é mais imensa e tem mais sabor quando sabemos que todo o mundo se curvou a ele – ainda que sem subalternidade.


Como já foi dito ano passado[8], temos a grande sorte de sermos contemporâneos de Milton.


Viva e mais vivas ao genial Milton Nascimento, hoje e para sempre!


Vinicius dos Santos Xavier é militante marxista desde o início dos anos 2000. Mestre em Filosofia e Doutorando em Educação. Professor de filosofia da rede estadual de São Paulo, integrante do grupo de estudos “Repensando o Desenvolvimento”, do LABIEB-USP no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.

Crédito da foto da página inicial: João Couto/Divulgação

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