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Sem pacto, teremos anos sem desenvolvimento, alerta Maria da Conceição


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Homenagem a Maria da Conceição feita pelo Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI


“Não quero morrer triste como Celso Furtado”, afirmou Maria da Conceição Tavares, assim que lhe deram o microfone, após receber o título de patrona do Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI, no último dia 27, no Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) da UFRJ, no Rio de Janeiro, cercada por dezenas de economistas, a maioria ex-alunos.

Um dos grandes nomes da área no país e referência do pensamento desenvolvimentista, Conceição confessou que está “no momento, muito triste”. “Já passei por muitos momentos difíceis na minha vida, mas nunca vivi num tempo histórico tão difícil quanto o atual”, disse, aproveitando a oportunidade de falar em público para fazer uma reflexão sobre o cenário político e econômico do país.

Aos 85 anos, ela afirmou que “não tinha a menor ideia do que ia ser a ditadura do capital financeiro que estamos vivendo hoje”. “São trilhões de dólares paralisados em funções especulativas, sem aplicação produtiva”. “E isso não é apenas uma crise de conjuntura”, sublinhou.

Sobre o momento vivido pelo país, a professora, que até o ano passado elogiava a estratégia certeira de desenvolvimento econômico e social dos governos do PT, lembrou a grave crise atual, puxada pela situação política, com o “estilhaçamento” de todos os partidos, em especial do PT e do PSDB. O PT, vítima de erros cometidos no passado recente, e o PSDB “enfurecido” no papel de oposição, “o que não ajuda o país”.

“Oposição raivosa como essa costuma dar em ditaduras, mas já não é provável a volta dos militares”, disse, observando, porém, que o momento lembra o que antecede rupturas assim, daí a necessidade de um “pacto” entre as forças políticas:

“Se não houver uma pactuação social ampla, não haverá possibilidade de conseguirmos passar por essa crise e serão muitos anos até conseguirmos induzir um projeto novo de desenvolvimento”.

Insistiu: “Precisamos reconstruir uma esperança para o futuro. Para se ter um futuro visível e razoável é preciso a pactuação. Os dois partidos protagonistas da ideia de social-democracia, PT e PSDB, deveriam conversar de forma civilizada.”

Inspiração

A homenagem feita pelo Centro de Altos Estudos, centro de excelência voltado para o estudo e discussão sobre desenvolvimento do Brasil, além de qualificação de quadros envolvidos na formulação de políticas públicas, não poderia ser mais justa e merecida.

Em mensagem, o ministro da Educação Aloízio Mercadante, também ex-aluno de Conceição, disse ser ela “permanente inspiração para a construção de um Brasil desenvolvido, dono do seu próprio destino e cada vez mais justo e democrático”.

Presidente do Conselho de Administração do Centro de Altos Estudos, Mariano Laplane lembrou que a professora representa como ninguém o propósito da criação da instituição, comprometida com a construção de uma sociedade que, além do desenvolvimento econômico, “despenda esforços para promover a redução da desigualdade que não é só de renda, mas também de qualidade de vida e de direitos”.

Mestra de gerações

Nascida em Portugal e naturalizada brasileira, a economista graduou-se primeiro em matemática, e é autora de diversos livros sobre desenvolvimento econômico, entre eles “Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil – Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro”, de 1972. Chefiou o escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil, no fim dos anos 1960, e foi deputada federal pelo Estado do Rio de Janeiro pelo PT (entre 1995 e 1999).

Aluna de Celso Furtado, Octávio Gouvêa de Bulhões e Roberto Campos, ao longo de 60 anos formou gerações de economistas e líderes políticos brasileiros, entre eles Dilma Rousseff, José Serra e Luís Gonzaga Beluzzo.

É professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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