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RJ: Revitalização depende de um olhar para as aglomerações produtivas

Foto do escritor: Luciana Leis, Desirée Rosalino, Marcos Dominguez, Ísis Mathias e Erick BuonocoreLuciana Leis, Desirée Rosalino, Marcos Dominguez, Ísis Mathias e Erick Buonocore


No Rio de Janeiro, os desafios da desindustrialização e da especialização no setor de petróleo podem ser enfrentados com políticas públicas coordenadas, que promovam a diversificação produtiva e o fortalecimento das economias locais

Artigo produzido para a coletânea Opina Rio (número 5), coordenada por Bruno Leonardo Barth Sobral


Examinar os setores industriais dos municípios do Rio de Janeiro é um diagnóstico que se mostra essencial para formular diversos tipos de políticas públicas que promovam o desenvolvimento socioeconômico e regional, considerando aspectos como bem-estar, sustentabilidade, diversificação e progresso técnico.


A indústria de transformação, em particular, desempenha um papel central na economia devido ao seu efeito multiplicador, que incentiva o crescimento de outros setores, gerando emprego e renda. Há uma correlação positiva entre o crescimento da produção industrial e o crescimento agregado, incluindo setores como agricultura e serviços, devido às economias de escala. Assim, um dos desafios existentes é definir um dinamismo econômico que fomente vantagens competitivas sustentáveis e progresso técnico.


Para alcançar um crescimento equilibrado, é essencial explorar as economias locais e definir estratégias que promovam competitividade sistêmica.


Este tipo de competitividade está embasado na relação e interação entre sistemas produtivos, instituições e atores sociais e deve ser foco das políticas que busquem fomentar o adensamento produtivo de âmbito regional, promovendo um crescimento inclusivo e sustentável. A competitividade sistêmica depende de uma rede integrada que inclui o sistema educacional, infraestrutura tecnológica, gestão empresarial e o aparato institucional.


É sabido que a decisão de localização de uma indústria depende, em grande medida, de fatores locacionais que influenciam tais decisões de instalação. De acordo com Weber (1969), esses fatores podem ser gerais (afetam todas as indústrias) ou especiais (ligados a necessidades específicas de certos setores). Além disso, há fatores que promovem a aglomeração ou dispersão das indústrias em uma região.


Nesse sentido, distintos autores discutem métodos de análise de concentração e especialização da indústria, tais como os clássicos Alfred Marshall e François Perroux, que são citados como referências teóricas sobre aglomerações industriais e polos de crescimento, destacando como a proximidade entre firmas pode facilitar o desenvolvimento de inovações e melhorar a produtividade. 


Metodologicamente, ao utilizar um indicador denominado “Indicador de Relevância Territorial (IRT)” – para identificar aglomerações produtivas nos municípios fluminenses, construído a partir de variáveis como emprego formal e remuneração e com critérios de densidade mínima para identificar localidades com potencial industrial –, pode-se encontrar diversas atividades cujas potencialidades existentes podem ser relacionadas à existência de concentrações no território fluminense.


Essa identificação é essencial para a formulação de políticas que promovam um desenvolvimento equilibrado e sustentável no estado e que considerem a aproximação de indústrias de um mesmo setor econômico.


Entre os anos de 2018 a 2022, a partir do cálculo do indicador citado, em alguns municípios, identificaram-se setores econômicos que apresentaram relevância em algum, em parte ou em todos os anos da série. Vale mencionar os resultados explicitando os municípios, e seus respectivos setores, que obtiveram alguma relevância no período.


Os locais que obtiveram relevância para algum setor econômico em todo o período analisado foram:  Angra dos Reis, com a Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores. A presença da construção naval, com um estaleiro de grande porte, é notória nesse território; Rio das Ostras, com Atividades de apoio à extração de minerais; Barra Mansa, com Metalurgia; em Porto Real, identificou-se a Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias; Resende apresentou a Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias; em Volta Redonda foi identificada a Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos; Cachoeiras de Macacu,  a Fabricação de bebidas.


E ainda, Itaguaí obteve a Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores; Paracambi se destacou com a Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos; Petrópolis, com a Fabricação de bebidas; em Queimados se identificou a Fabricação de produtos de minerais não-metálicos; Seropédica e Santo Antônio de Pádua se destacaram com a Extração de minerais não-metálicos; Macaé, com conhecidas atividades do município, a saber, as Atividades de apoio à extração de minerais e a Extração de petróleo e gás natural, bem como com a Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos; Bom Jardim, com Confecção de artigos do vestuário e acessórios; Cantagalo apresentou a Fabricação de produtos de minerais não-metálicos; Nova Friburgo, com a Confecção de artigos do vestuário e acessórios e  a Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos; e Teresópolis, que apresentou o a fabricação de bebidas.


Em relação às atividades que não apresentaram relevância em algum ano da série, temos Metalurgia, nos municípios de Volta Redonda e Pinheiral. Destaca-se a localização de seu território, que está próximo a uma concentração produtiva voltada para a atividade metalomecânica. Considerando a Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos, identificaram-se os municípios de Cordeiro, Petrópolis e Rio das Ostras.


Em Rio das Ostras, tal atividade apresentou relevância nos anos finais da série, indicando que a atividade vem se fortalecendo no território municipal, em grande medida, pela proximidade com as atividades subjacentes à extração de petróleo e gás. Já a Extração de petróleo e gás natural, esta foi percebida nos municípios de São João da Barra e Rio de Janeiro. 


Ainda para os municípios que não apresentaram relevância em algum ano do período podemos mencionar: a Fabricação de celulose, papel e produtos de papel no município de Santo Antônio de Pádua; a Confecção de artigos do vestuário e acessórios em Rio das Flores; a Fabricação de produtos de borracha e de material plástico nos municípios de Itatiaia e Paraíba do Sul; a Fabricação de produtos têxteis no município de Queimados; e Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos em Porto Real. 


Diante do exposto, pode-se notar que o estado possui muitos setores importantes na escala municipal, sendo necessária uma estratégia para fomento de atividades relacionadas a eles criando inter-relação para adensamento das cadeias produtivas e, consequente, fortalecimento e da economia do estado do Rio de Janeiro. 


Por fim, cabe ressaltar a necessidade de revitalização econômica do Rio de Janeiro, uma vez que a economia do estado ainda enfrenta desafios como a desindustrialização e a especialização no setor de petróleo. Para superar essas dificuldades, há a necessidade de políticas públicas mais coordenadas que promovam a diversificação produtiva, o fortalecimento das economias locais e a criação de sinergias entre as diferentes regiões de governo, que seja fruto de uma ação coordenada de distintos atores públicos e privados e tenha reflexos diretos na estrutura produtiva local. 


Título original: "Aglomerações produtivas nos municípios do Estado do Rio de Janeiro"

Crédito da foto da página inicial: Divulgação Grupo Petrópolis/Fábrica de bebidas em Teresópolis/RJ.


Autores: Luciana Leis (UFF), Desirée Rosalino (ENCE), Marcos Dominguez (UFABC), Ísis Mathias (UFF) e Erick Buonocore (UFF).

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