Publicado originalmente em Outras Palavras
Por Antonio Martins
O movimento embrionário – porém nítido – para retomar a formulação de um projeto de país – avançará em novo terreno, a partir desta segunda-feira (13/6). Um seminário nacional, via internet, debaterá alternativas ao desmonte da Petrobras e à tentativa de entregar o pré-sal a petroleiras internacionais. O encontro reunirá ativistas, intelectuais, sindicatos e lideranças políticas.
É uma resposta à série de atos do governo Bolsonaro para fatiar a estatal, privá-la de suas subsidiárias mais importantes e, ao fim, privatizá-la. Mas não será apenas um ato de resistência. Os organizadores – Sindicato dos Engenheiros de São Paulo (Seesp), Centro de Mídia Barão de Itararé e Outras Palavras – estão convencidos de que, para salvar a Petrobrás e o petróleo brasileiro, é preciso vinculá-los a um novo padrão de desenvolvimento – com bases opostas às do neoliberalismo.
O seminário começa segunda-feira (13/6), às 18h. A ideia é colocar em diálogo – e, se possível, em ação comum – os atores políticos que resistem à rapina da empresa. Tentarão fazê-lo o presidente da Federação Única dos Petroleiros, Deyvid Bacelar; Fernando Siqueira, diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobrás; Murilo Pinheiro, presidente do Seesp; representantes do PSB (Flávio Dino), PT (Érica Kokay), PDT (Paulo Ramos), PSOL (Sâmia Bonfim) e PCdoB (Jandira Feghali).
Mas o seminário tem também objetivos de formação política. Um dos grandes desafios da luta em defesa da Petrobrás e do petróleo é a inexistência de debate acerca do desmonte, na mídia comercial. Ao longo da terça-feira (14/6), haverá três diálogos para começar a sanar este déficit.
O primeiro, às 10h, intitula-se Radiografia do Desmonte e da Resistência. Traçará um panorama da pilhagem oculta promovida pelos dois últimos governos. O senador Roberto Requião reportará a defesa da empresa no terreno minado do Congresso Nacional. O engenheiro Paulo César Ribeiro de Lima argumentará que mesmo os primeiros governos de esquerda foram tímidos ao protegê-la – e esta atitude precisa mudar. O sociólogo William Nozaki adiantará algo sobre os planos dos partidos que apoiam Lula para o pós-Bolsonaro.
A defesa da riqueza petroleira do Brasil não é, porém, tarefa apenas da esquerda institucional. Às 14h, o tema será Caminhos para recuperar a empresa e o país. O geólogo Guilherme Estrella, que foi diretor de Exploração e Produção da Petrobrás e é considerado por muitos como o descobridor do pré-sal, narrará a saga que levou à descoberta dos campos gigantes – e argumentará que só uma empresa pública poderia empreendê-la. O advogado Gilberto Bercovici, professor titular da Faculdade de Direito da USP, apresentará seus estudos jurídicos, segundo os quais há caminhos reverter o desmonte, recuperar todas as subsidiárias amputadas da Petrobrás e renacionalizar o pré-sal – desde que haja vontade política e mobilização social. O economista Luiz Gonzaga Belluzzo apontará os nexos entre a retomada da empresa com a reindustrialização do Brasil. Clarice Ferraz, professora da Escola de Química da UFRJ e diretora do Instituto Ilumina, abordará algo poucas vezes debatido, nos encontros sobre a Petrobrás: a possível participação da empresa na transição para uma economia pós-combustíveis fósseis…
Como furar, porém, o bloqueio das mídias tradicionais, diante de temas tão importantes e tão negligenciados? Este será o tema da mesa de encerramento do seminário, às 18h da terça-feira. Aportarão seus saberes a economista Juliane Furno, conhecida pela capacidade pedagógica de popularizar temas aparentemente áridos, e a jornalista Cláudia Santiago, articuladora de uma vasta rede de publicações dos movimentos sociais, sempre instigados à excelência e ao aprofundamento, em cursos promovidos pela Escola Piratininga. O autor destas linhas, também presente, procurará aprender com elas.
Veja a programação do seminário “Em defesa do petróleo brasileiro e da Petrobras, que pode ser acessado AQUI:
13/6 | Segunda-feira
18h – Compromisso em defesa da Petrobras
Murilo Pinheiro – Presidente da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) e do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP)
Deyvid Bacelar – Coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP)
Fernando Siqueira – Diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet)
Roberto Freire – Presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge)
Jandira Feghali – Deputada federal (PCdoB/RJ)
Sâmia Bomfim – Deputada federal (PSOL/SP)
Erika Kokay – Deputada federal (PT/DF)
Flávio Dino – Governador do Maranhão (2015-2022) – PSB
Paulo Ramos – Deputado federal (PDT/RJ)
14/6 | Terça-feira
10h – Radiografia do desmonte e da resistência
Paulo César Ribeiro de Lima – Ex-engenheiro da Petrobras e consultor legislativo aposentado na área de minas e energia
William Nozaki – Coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep)
Roberto Requião – Senador (2011-2018) e ex-governador do Paraná (a confirmar)
14h – Caminhos para recuperar a empresa e o País
Gilberto Bercovici – Professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP)
Clarice Ferraz – Diretora do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina)
Guilherme Estrella – Ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras
Luiz G. Belluzzo – Professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
16h – O papel das mídias que não silenciam
Claudia Santiago – Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)
Antonio Martins – Outras Palavras
Juliane Furno – Economia com Ju Furno
Crédito da foto da página inicial: Reprodução/Portal Vermelho
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