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País mostra maior resiliência frente às crises internacionais

No contexto do acirrado debate eleitoral, a economia brasileira tem se tornado objeto da mais variadas comparações. Confronta-se o Brasil a um conjunto maior ou menor de países, compara-se o passado ao presente e, até mesmo, ambos ao “que podia ter sido e que não foi” – se nos permite o leitor o empréstimo do verso.

Ainda que não tenhamos a pretensão de avaliar o mérito dessas análises comparativas, é curioso observar que a constatação de que o Brasil teria alcançado maior resiliência frente às crises internacionais, hipótese que recebeu certa atenção no meio acadêmico no passado recente, parece agora ter caído no esquecimento.

Neste sentido, com um exercício bastante simples buscamos rememorar este fenômeno que nos parece essencial na discussão político-econômica atual.

A Figura 1, abaixo, apresenta a taxa de variação do PIB em termos reais entre os anos de 1994 e 2014. A fim de examinar o desempenho econômico brasileiro em momentos de turbulência internacional, destacamos em azul os períodos que comportaram algumas das principais crises econômicas globais no período analisado.


grafico taxa de crescimento pib

Dentre as principais crises internacionais, destacam-se: as crises cambiais da década de 1990, incluindo a crise do México (1994-1995), do Leste Asiático (1997-1998), da Rússia (1998-1999) e do Brasil (1998-1999); a crise das “dot-com”, já no início dos anos 2000, com impactos mais acentuados entre os anos de 2001 e 2002; e, por fim, a Grande Recessão, como se convencionou denominar o período impactado pela crise financeira internacional de 2008, combinada com a crise europeia de 2009, cujos efeitos persistem até os dias atuais.

Verifica-se que a taxa média de crescimento anual do PIB brasileiro vem sendo relativamente maior no período da Grande Recessão (2,52%), quando comparada às taxas médias de crescimento durante o período das crises anteriores (2,00%).

Ainda que as taxas de 0,52% a.a. já expressem diferença positiva a favor do desempenho econômico recente, devemos considerar que a gravidade da Grande Recessão torna mais claro o potencial econômico do Brasil em meio a um cenário internacional pouco animador.

Conforme estimativas de Reinhart e Rogoff em estudo recente, durante os anos 1990 e início dos anos 2000, os países em crise representavam cerca de 47% do PIB da economia global, atingindo o pico de 65% em 1998.

Durante a Grande Recessão este valor chegou a 71% em 2008, passando para cerca de 50% nos anos seguintes, sem considerar, ainda, os efeitos da crise europeia. É evidente, portanto, que a despeito da maior abrangência e profundidade da crise recente, a economia brasileira apresentou desempenho relativamente melhor em relação àquele do passado em momentos de turbulência internacional.

Ademais, devemos considerar que essa diferença de 0,52% no crescimento do PIB entre os dois grandes períodos de crise representa um volume de emprego relativamente maior na última década.

Como aponta estudo do IPEA, um simples cálculo de elasticidade emprego-produto, mostra que a cada variação de 1% no PIB real, entre 1996 e 2002, gerava-se 1,39% de emprego na economia. Para o período de 2000 a 2010, no entanto, uma variação de 1% no PIB real leva a um aumento de 1,44% no volume de emprego.

Resta a pergunta: quais as razões que teriam levado a este resultado relativamente positivo no que se refere ao crescimento?

Por um lado, é verdade que a economia brasileira foi beneficiada entre os anos de 2003 e 2007 por um contexto internacional favorável, no qual a elevação dos preços das principais commodities permitiu a conformação de uma situação externa confortável, afastando-nos de possíveis crises no Balanço de Pagamento.

Soma-se a isso a atuação pouco ortodoxa das autoridades econômicas no mercado cambial durante a própria crise.

Por outro lado, em virtude da melhora continuada da distribuição de renda no País desde 2001, como os dados da PNAD têm inegavelmente evidenciado, o mercado interno tem se tornado mais dinâmico.

Com efeito, a redução da desigualdade tanto por políticas diretamente voltadas a esse objetivo, como o Programa Bolsa Família e a elevação do salário mínimo, quanto pela diminuição do desemprego e maior formalização no mercado de trabalho, fez com que parcela relevante da população brasileira, anteriormente às margens do mercado consumidor, o integrasse de fato.

Aliado a esse movimento, também são dignas de nota as políticas de estímulo ao crédito e redução de impostos para certas categorias de bens.

Com efeito, pela Figura 2, é possível observar que a contribuição do consumo no crescimento médio anual do PIB, entre 1994-2002, foi de 1,45% a.a. (para uma taxa média de crescimento do PIB de 2,04% a.a.). Já entre os anos 2003 e 2013 a contribuição do consumo alcançou 2,55% (sendo a taxa média de crescimento do PIB de 3,35% a.a.).


grafico contribuicao do consumo no pib

A redução da desigualdade, portanto, não apenas serviu para amenizar a histórica heterogeneidade econômica do País, mas, também, constituiu uma fonte de crescimento capaz de mitigar os impactos da crise econômica global recente.

Por conseguinte, as evidências apresentadas nos permitem afirmar que o Brasil hoje é mais resiliente frente às intempéries da conjuntura internacional, o que depõe a favor das políticas de redução da desigualdade e crescimento do consumo interno implementadas ao longo das últimas três gestões do governo federal.

Desse modo, as conquistas recentes não devem ser negligenciadas no debate político-econômico atual e, sobretudo, devem servir como um exemplo da nossa capacidade de transformação socioeconômica para o futuro frente aos importantes desafios que ainda restam.

Crédito da foto da página inicial: EBC

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