Pesquisadores do Cecon-Unicamp acabam de divulgar nota em que discutem a natureza e impactos da crise provocada pela pandemia do novo Coronavírus e as medidas de enfrentamento à crise no Brasil e no mundo. Os autores da nota, Guilherme Mello, Ana Luíza Matos de Oliveira, Ana Paula Guidolin, Camila de Caso, Grazielle David, Julio Cesar Nascimento, Ricardo Gonçalvese Tiago Seixas pontuam que a crise econômica provocada pela disseminação do novo coronavírus tem início na esfera produtiva e impacta os mercados financeiro e de crédito, sendo o oposto do ocorrido em 2008.
Em vista disso, a saída da crise ocorrerá apenas quando a situação sanitária for controlada. Enquanto isso, é pouco o que os Bancos Centrais podem fazer para salvaguardar a economia, como foi feito em 2008, quando a injeção de liquidez e o “salvamento” de instituições financeiras foram capazes de amenizar a queda da produção.
Os autores analisam as ações adotadas por diversos países para se contrapor à crise e mostram que diversos governos apostam na utilização massiva da política fiscal, e que o combate aos efeitos econômicos e sociais da crise será uma das operações fiscais mais ousadas da história recente do capitalismo. Além disso, defendem que será preciso ampliar a oferta de crédito através de bancos públicos, já que as instituições privadas estariam limitadas diante dos riscos do cenário atual.
Segundo os autores, “tanto o Fundo Monetário Internacional quanto o Banco Mundial recomendam aos países ampliar urgentemente os gastos com saúde e buscar medidas de apoio aos mais vulneráveis”.
Eles afirmam ainda que o Brasil apresenta uma vantagem temporal diante dessa pandemia, pois é possível agora observar o impacto do Covid-19 em outros países e adotar medidas eficazes para frear o surto a partir das experiências internacionais. No curto prazo, o Brasil apresenta a vantagem de ter o Sistema Único de Saúde (SUS), que apresenta grande capilaridade, porém com crônico subfinanciamento.
Em relação à necessidade de isolamento social amplo a situação no Brasil é complexa, seja pela situação precária de moradia em que parte significativa dos brasileiros se encontra, seja pela estrutura do mercado de trabalho, com taxa de informalidade de 40,7% (chegando 38,3 milhões de pessoas) e alta vulnerabilidade social. É insustentável para esses trabalhadores permanecerem de quarentena, sem renda.
Apesar deste quadro de vulnerabilidade, as medidas anunciadas pelo governo brasileiro no front econômico, até agora, são em grande parte remanejamento orçamentário, sem injeção de recursos novos na economia como outros países anunciaram, criticam os autores. Assim, a partir da experiência internacional, o texto elenca uma série de medidas de curto e longo prazo no âmbito da saúde, assistência e previdência, política fiscal e política monetária e de crédito para enfrentar a crise, em especial preservando a renda dos mais vulneráveis.
No entanto, os autores apontam que “mesmo que medidas adequadas de combate à pandemia sejam tomadas e se mostrem capazes de minimizar seus efeitos sociais e econômicos, a economia mundial deve sair muito diferente da crise”. No Brasil, a pandemia coloca em xeque a política econômica adotada desde 2015 (as privatizações, a condução das políticas econômicas com regras fiscais inadequadas, a precarização do mercado de trabalho e a ampliação da vulnerabilidade social). Repensar o caminho e alterar a estratégia de desenvolvimento, adequando-a ao novo capitalismo que surgirá após a Coronacrise, será o grande desafio das próximas décadas, afirmam.
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Crédito da foto da página inicial: Diário Carioca.
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