Concordamos com a maior parte das soluções apontadas pela crônica esportiva para colocar a seleção brasileira de novo no topo do futebol mundial, depois de mais uma campanha decepcionante em Copa do Mundo. Precisamos, sim, reencontrar nossas raízes; investir na base, reformular elenco, rever critérios de convocações, atualizar calendário, fazer uma limpa na administração do esporte.
Mas, para além das medidas que busquem resultados pragmáticos para o escrete canarinho, consideramos que o resgate do futebol brasileiro passa também pela retomada da cultura da prática desportiva em locais públicos, fazendo parte da rotina das nossas cidades. As nossas ruas, praças e parquinhos precisam voltar a ser ocupados por meninos e meninas brincando – de jogar futebol, ou qualquer outra brincadeira.
Isso não dispensa, evidentemente, a prática esportiva como integrante do currículo escolar. Nem os investimentos em centros de formação de formação de atletas – das escolinhas aos clubes de alto rendimento.
O assunto aqui e agora é outro. Estamos a tratar da necessidade de resgate de espaços e momentos da vida urbana dedicados ao lazer. Da importância de as nossas cidades contarem com praças, quadras, ruas fechadas para o tráfego de veículos para serem utilizadas pela comunidade para sua diversão, como lugares de convivência coletiva. De uso público, livre, gratuito. A qualquer hora do dia. Em qualquer dia da semana.
O futebol de rua, de várzea, suburbano, é elemento da identidade nacional brasileira. É a ponta do cordão umbilical que nos une à nossa seleção. Que alimenta – com torcida, energia, vibrações – o esquadrão que nos representa mundo afora. Essa ponta está fragilizada. Sufocada pela especulação imobiliária, pelo adensamento urbano que privilegia o transporte individual, os condomínios fechados, em detrimento da vida em sociedade.
Recuperar o lazer e o esporte nas ruas pode fortalecer o nosso futebol. E, sem dúvida, torna a vida nas cidades muito mais solidária, segura, agradável.
Crédito da foto da página inicial: Caio Vilela/Fotos Públicas
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