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Foto do escritorBrasil Debate

O legado de Haddad para o urbanismo e a reação conservadora

A última pesquisa de intenções de voto para a Prefeitura de São Paulo, divulgada pelo Instituto Datafolha em 26/09, aponta a liderança do candidato João Dória (Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB) com 30%, seguido por Celso Russomanno (Partido Republicano Brasileiro – PRB) e Marta Suplicy (Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB), com 22% e 15% respectivamente. O atual prefeito e candidato à reeleição, Fernando Haddad (Partido dos Trabalhadores – PT), aparece em 4º lugar na pesquisa, tendo subido apenas 1% desde 21/09, e figurando agora com 11% das intenções de voto.


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Há que se tentar entender, no entanto, o repúdio de 43% (chegando a 49% entre pessoas com mais de 60 anos e a 35% entre 16 e 24 anos) da atual gestão por parte dos entrevistados (dados da mesma pesquisa Datafolha), uma vez que Fernando Haddad é, inegavelmente, um dos políticos mais desafiadores e audaciosos que já passaram pela cidade.

O que está em jogo nas próximas eleições é a continuidade ou a suspensão do projeto de uma São Paulo mais democrática e orientada para os interesses coletivos em detrimento das velhas políticas que há anos perpetuam os mesmos problemas.

Para muitos eleitores, a elevada rejeição do atual prefeito pode ser explicada pela sua filiação ao Partido dos Trabalhadores, alvo de diversas investigações na Operação Lava Jato e também a causa do ódio de muitos brasileiros que veem o PT como a matriz da corrupção existente no país.

No entanto, quando questionado a respeito do peso que sua ligação partidária teria nos resultados das pesquisas, o atual prefeito afirma não atribuir tais números aos recorrentes escândalos ligados ao seu partido. A verdade é que Fernando Haddad toca mesmo em muitos nervos ao propor um modelo de cidade que em muito se difere do que vem sendo praticado ao longo dos anos, sobretudo no que diz respeito à complexidade de suas políticas urbanas.

Além de enfrentar corajosamente questões antes intocadas por políticos mais tradicionalistas, como a supremacia da utilização do carro e a abertura de vias veiculares para espaços de lazer, Haddad propõe ainda a construção de um modelo de cidadania antes apenas sonhado por parte de diversos segmentos da sociedade, como por exemplo as comunidades LGBT’s e os dependentes químicos da cracolândia. O fato é que não é possível desafiar o status quo de uma das maiores metrópoles do mundo sem desagradar os mais conservadores.

Com todas as medidas polêmicas envolvendo o mandato do atual prefeito, talvez tenham sido aquelas tomadas no âmbito do planejamento urbano as que contribuíram significativamente para a queda de sua popularidade e deram o tom do resultado das pesquisas eleitorais.

Embora se apoie em recomendações da Organização Mundial da Saúde (O Global Status Report on Road Safety, publicado pela OMS em 2015, recomenda que o limite máximo de velocidade em áreas urbanas seja de 50km/h) e siga práticas de mobilidade urbana utilizadas com sucesso não só em países desenvolvidos, como também em Bogotá, Medellín e Buenos Aires, suas ações seguem gerando controvérsias e discussões acaloradas de parte da população que não se conforma com a redução da velocidade nas avenidas marginais, tomada do espaço de carros por bicicletas e ônibus, aumento dos radares de trânsito e a utilização de grandes avenidas para apropriação aos domingos.

Mesmo com a redução do número de vítimas fatais em acidentes e a validação da melhora do trânsito como um todo por parte de uma das maiores empresas produtoras de GPS do mundo (a holandesa TomTom, que em 2014 listava São Paulo como o 4º pior trânsito do mundo, posição que caiu para 58º em 2015), Haddad segue sendo duramente criticado.


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Quando analisamos os números apresentados, fica difícil negar que existe no mínimo uma resistência por parte da mídia brasileira e de muitos eleitores em reconhecer os ganhos da atual gestão da cidade de São Paulo.

Com suas políticas de planejamento urbano consideradas “demagogas” (Estado de São Paulo) e “imprudentes” por aqui, para jornais aclamados no mundo todo como o The New York Times e Washington Post, Fernando Haddad seria um “visionário” que encontraria resistência em “qualquer proposta” apresentada, simplesmente pela sua filiação partidária. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, também teceu elogios ao prefeito de São Paulo em debate realizado em 2015 na Escola de Urbanismo da Sciences Po – uma das universidades mais renomadas do mundo – ao endossar a necessidade de se assumir riscos quando da gestão de uma grande cidade.

No entanto, nem mesmo o respaldo do reconhecimento e da experiência internacionais tem sido o suficiente para convencer os mais céticos de que é possível sim que decisões difíceis contribuam para a construção de cidades mais bem integradas e inclusivas.

Com todos os desafios e problemas pertinentes à gestão de uma metrópole com o porte e o histórico de São Paulo, as ideias e propostas trazidas pela gestão de Fernando Haddad representam um grande desafio ao entendimento comum, posto que não estamos acostumados a uma administração pública que faz política à luz do urbanismo.

Trata-se de tentativas corajosas de edificar novas dinâmicas e ações na cidade, cujos frutos serão melhores colhidos a médio e longo prazo — o que talvez explique a impaciência e contrariedade da população. As discussões empreendidas pela gestão Haddad são invariavelmente extensas e delicadas, mas podem abrir caminhos antes inimagináveis para a melhoria da qualidade em vida de São Paulo e a mudança de paradigmas que já há muito urgem para serem modificados.

Referências

Crédito da foto da página inicial: SpressoSP

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