A contração do PIB (-1,5%) verificada no primeiro trimestre de 2020, em relação ao trimestre imediatamente anterior, foi atribuída pelo IBGE à pandemia do novo coronavírus e ao distanciamento social. De fato, a contração tem forte relação com o Covid-19, mas não com a reação das autoridades brasileiras de saúde pública, ou seja, com as políticas de isolamento social para conter o vírus.
Dados de fevereiro já mostraram uma tendência de desaceleração do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central – Brasil) que vem desde o último trimestre de 2019. A desaceleração tornou-se uma contração em março em razão do contágio econômico da pandemia. Tal contágio econômico precede a transmissão viral massiva e sua percepção no Brasil, o que se reflete em vários indicadores econômicos (como o consumo não-residencial de energia).
A bibliografia sobre o impacto econômico da pandemia já explicou teoricamente e identificou empiricamente os canais de transmissão internacional: 1) expectativas negativas de empresas sobre demanda e oferta; 2) redução efetiva do comércio exterior (queda de exportações e estrangulamento de importações de insumos); 3) contração do crédito e de fluxos financeiros internacionais e locais; 4) contração do gasto dos consumidores por motivos precaucionais e/ou por desemprego.
Indicadores de comércio exterior, confiança e crédito mostram que todos esses mecanismos de transmissão operaram em março, isto é, antes da transmissão massiva do novo coronavírus no Brasil.
Já os dados do IBGE indicam que as exportações de bens e serviços tiveram recuo significativo (-0,9%), refletindo a desaceleração mundial e regional. Mais significativas são a contração do Consumo das Famílias (-2%) e do setor de serviços (-1,6%). A taxa de ocupação também mostrou redução expressiva no trimestre encerrado em março, piorando em abril.
Apresentamos dados sobre a divergência internacional entre o impacto econômico e a transmissão viral do Covid-19. Dados da OCDE e do ECDC indicam que o caso brasileiro apresenta a maior divergência entre contágio econômico e transmissão viral, ou seja, a desaceleração econômica é relativamente mais rápida que a difusão da pandemia e anterior à implementação das primeiras políticas de isolamento social.
O PIB brasileiro do primeiro trimestre não refuta, mas reforça um consenso científico crescente: é a pandemia que deprime a economia, e não as políticas de saúde pública capazes de controlá-la.
Autores: Pedro Paulo Zahluth Bastos, Luiz Celso Gomes-Jr., Lorena Salces Dourado, Gabriel Petrini, Paulo Robilloti e Antonio Ibarra*
Baixe a nota completa aqui.
Crédito da imagem da página inicial: Rovena Rosa/Agência Brasil
*Os autores são respectivamente professor associado do IE-UNICAMP, professor no departamento de informática da UTFPR, graduanda e doutorandos do IE-UNICAMP.
Yorumlar