Uma análise da estrutura de consumo privada no Estado do Rio de Janeiro e suas implicações para o desenvolvimento regional
O modelo desenvolvimentista proposto pela escola de pensamento da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) defendia a interpretação histórica da região em que se pretendia fomentar o desenvolvimento. Desta forma, estes estudiosos entendiam que o crescimento não é homogêneo – como defendiam os nascentes economistas ortodoxos, oriundos principalmente dos EUA e Europa – e precisa ser encarado com base nas questões de cada região.
Para Fonseca (2000, p. 339): “a importância da CEPAL reside em ter organizado, sistematizado e apresentado, dentro dos cânones formais técnicos e científicos, teses que de forma mais ou menos fragmentária vinham sendo divulgadas na América Latina já há mais tempo, do final d do século XIX às primeiras décadas do século XX”.
Além do exposto, este autor (2000, p. 339-40) conclui que “sua importância reside menos em descobrir o novo e mais em organizar um discurso coerente”. Desta forma, o presente artigo propõe-se a aplicar tal modelo ao caso do Rio de Janeiro, em sua estrutura de consumo.
A estrutura do consumo no Rio de Janeiro
Trazendo o estudo do estruturalismo aplicado ao Rio de Janeiro, uma característica que difere os países ricos dos pobres é o consumo privado; como a renda nos primeiros é mais elevada, a composição do consumo está mais atrelada a bens manufaturados, enquanto que a composição dos de renda mais baixa está estrita ao consumo dos chamados bens de primeira necessidade, como explicitam Castro e Lessa (1984), nesta tabela 1.
A interpretação deve ser feita em valores relativos, logo, não é necessário supor que o Equador consome mais alimentos e bebidas que os EUA, mas sim, que ele consome mais de sua renda com estes itens que os estadunidenses.
Essa composição evidencia uma relação intrínseca a estes dois países, enquanto os EUA consomem mais bens manufaturados com valores adicionados maiores, a renda equatoriana está sendo gasta em artigos básicos, com baixo valor agregado; a incapacidade de conseguir consumir artigos mais elaborados condena o Equador a importar os artigos mais elaborados, pois a sua demanda interna não é grande o suficiente para gerar um processo endógeno de transformação.
Este quadro é consequência do que Castro e Lessa (1984) chamam a atenção: a distribuição da renda acompanha a estrutura do emprego, ou seja, empregos mais qualificados percebem rendimentos maiores em detrimentos de empregos de menor qualificação.
Levando a análise ao caso concreto, o consumo das classes de maior renda, no Rio de Janeiro, espelha o mesmo que o observado por Castro e Lessa, em um mesmo nível geográfico essa proporção mantém-se verdadeira, como mostra a tabela 2.
Desta forma, elevar o padrão de consumo da população é um ponto para o encadeamento produtivo, ao abrir espaço para bens mais elaborados, entretanto, é necessário alterar a composição do mercado de trabalho e focar em qualificação profissional, para refinar o aparelho produtivo fluminense.
Observa-se, portanto, que estes pontos estão entrelaçados: para diversificar a produção é necessário que as pessoas consumam bens mais elaborados, que só será possível caso a renda seja incrementada, esta, por sua vez, está entrelaçada à qualificação da mão de obra.
Tabela 2 - Consumo por classes de rendimento familiar no Rio de Janeiro 2017- 2018
Conclusão
Fica, portanto, evidente, que dada a variação no nível de renda, o consumo se altera também: classes mais altas consomem produtos e serviços de maior sofisticação. Como fica explícito no item de transportes, a comparação entre os subitens “urbano” e “aquisição de veículos” apresenta uma correlação inversa de acordo com cada nível de renda.
Outro ponto de interesse para a análise é o item “despesas de consumo”, ou seja, o consumo per si de cada classe: enquanto a classe mais baixa gasta mais de 90% de sua renda consumindo, a classe mais elevada gasta pouco mais da metade de sua renda, evidenciando que essa última a utiliza para fins de ampliação da mesma, ou seja, sua fonte de renda não é apenas o trabalho, como nos níveis mais inferiores.
A partir de sua elevada renda, as classes mais altas incrementam ainda mais seus rendimentos, intensificando ainda mais a concentração de renda. Entretanto, o ponto fundamental aqui é: as classes mais altas só podem incrementar seu rendimento por causa de seu emprego que lhe proporciona um rendimento maior e lhes permite diversificar o consumo e a aplicação de seus salários.
Bruno Cabral Muniz Freire é graduando em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e bolsista de Estágio Interno Complementar (EIC) pela UERJ no projeto Rede Pró-Rio.
*Título original: "O Desenvolvimento por uma Abordagem Estruturalista: O caso do Rio de Janeiro sob uma ótica cepalina". Publicado na Coletânea Pró-Rio/outubro de 2022, organizada pela Rede Pró-Rio e pelo GESTRIO - Sindicato dos Gestores Públicos do Estado do Rio de Janeiro.
Crédito da foto da página inicial: Tânia Rêgo/Agência Brasil.
Referências
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Handbook of Latin American Economics. Oxford University Press, 2011.
Castro, A. e Lessa, C. Introdução à economia: uma abordagem estruturalista, 26ª
ed. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1984.
Fonseca, P. C. D. As origens e as vertentes formadoras do pensamento cepalino.
Rio de Janeiro, Revista Brasileira de Economia, 2000.
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