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Mulheres e participação política

Este ano, as eleições presidenciais estão de certa forma atípicas do ponto de vista das questões de gênero: temos duas candidatas mulheres com fortes possibilidades de vencer o pleito e, além disso, existe mais uma candidata mulher concorrendo às eleições e participando em debates – algo inédito na história da democracia brasileira, e que mostra o nítido aumento da participação feminina no espaço político.

No entanto, diversas pesquisas e rankings internacionais mostram que nesse quesito o Brasil ainda tem muito o que crescer: o País se encontra hoje na posição de número 131 em levantamento feito com 188 países sobre a quantidade de mulheres na política representativa, em especial no Legislativo (Inter Parliamentary Union)

Qual seriam os motivos de tamanha disparidade?

Além da falta de apoio dos partidos e dos espaços políticos para a participação das mulheres, existem também os pesados fardos sociais, que fazem com que a maioria das mulheres do País tenha uma jornada dupla ou até tripla de trabalho (trabalhos formais, informais e domésticos), além do pouco espaço na própria família para que se expressem e reflitam politicamente.

Programas que deram prioridade ao atendimento às mulheres, como o Bolsa Família, ajudaram a incluí-las ainda mais nos planos sociais e econômicos nos últimos anos no Brasil.

Eles trouxeram um empoderamento expressivo das mulheres, especialmente das camadas mais populares, como bem mostrou o trabalho da professora Walquíria Leão Rego (Vozes do Bolsa Família).

No entanto, essa inclusão ainda não alterou a proporção de mulheres na política institucional brasileira: essa realidade vem mudando aos poucos, mas parece ainda não atingir as esferas políticas institucionais da mesma forma com que as mudanças sociais vêm ocorrendo. Veja o gráfico:


grafico mulheres em cargos políticos

Porém, e quando as mulheres que estão nos espaços políticos e de poder acabam por reproduzir discursos e práticas dos grupos hegemônicos?

Percebe-se que algumas mulheres, ao concorrerem a cargos políticos, repetem o discurso mais conservador e elitista de nossa sociedade, primando por uma atuação machista e retrógrada em relação a políticas essenciais para a mulher, por exemplo, ou reproduzindo estereótipos machistas em suas falas e práticas.

Então levamos o debate sobre a participação feminina a outro aspecto, refletindo sobre quais mulheres são alçadas aos postos políticos. É recorrente na política municipal e estadual brasileira que filhas e esposas de políticos sejam também lançadas como candidatas, apenas para “cumprir a cota” de 30% de mulheres candidatas nos partidos.

Não é o caso das duas candidatas à Presidência às quais nos referimos no início, ambas formadas na política a partir de suas militâncias. Mas seriam suas posturas um diferencial para a política brasileira ou o fato de serem mulheres ou homens nos cargos mais altos de representação nacional seria apenas um detalhe, pois as políticas dessas mulheres seriam essencialmente iguais às dos homens?

Temos aqui então duas linhas de análise. A primeira e mais óbvia é que sim, importa o fato de serem mulheres, pois têm vivências e socializações diferentes e, ainda que tenham discursos tão machistas ou conservadores quanto os “homens-brancos-classe-alta” da política tradicional, representam exemplos de empoderamento para as próximas gerações de mulheres, que passam a ver como possível, e até corriqueiro, que as mulheres estejam em altos postos políticos.

Já a segunda linha de análise nos traz um problema mais complexo, de que não basta apenas que sejam mulheres nessas posições para que a democracia ganhe em qualidade e em representatividade, mas é preciso que essas mulheres rompam (ou ao menos questionem) os paradigmas machistas impostos em nossa sociedade.

Inclusive em suas posturas e, principalmente, em seu fazer político, dando prioridade a temas e problemas que atingem a população feminina e que são ignorados sistematicamente pela política masculinizada.

Nesse sentido, os movimentos que lutam pelos direitos das mulheres entendem que não basta apenas eleger candidatas, mas é preciso que elas defendam temas da igualdade de gênero.

Mas além das dificuldades institucionais e ideológicas, a nossa sociedade ainda vê a mulher que se impõe, que possui uma personalidade tida como “forte”, que entende de política e de economia e que se expõe ao debate, como uma mulher masculinizada, especialmente se essa mulher não se encaixar no padrão de “mãe” ou de “bem casada”.

Assim, o valor de uma mulher, também na política, é medido pelas suas relações com os homens e sua postura como uma mulher dócil, bondosa, carinhosa, maternal e sensitiva (qualidades ditas femininas).

Portanto, a mulher que trata a política com racionalidade, assertividade e objetividade (qualidades ditas masculinas) é vista como não-mulher, pois contraria os estereótipos femininos do senso comum.

Se destaca, também, a tendência a julgamentos relacionados à sexualidade e à aparência das mulheres em questão, sendo que tais comentários são raramente feitos em relação aos candidatos ou políticos homens.

É importante perceber o papel da mulher na democracia brasileira não como figura externa ao plano político, mas sim como pessoa que, a partir de socializações diferentes, possa também trazer novas visões, especialmente quando não se adequa ao padrão da mulher casada, mãe, dona de casa, religiosa, meiga e emotiva.

Esses fatores são também, em especial em épocas eleitorais, usados para medir capacidades dos candidatos homens. No entanto, a medida e o peso para as mulheres é sempre mais rígida e mais cruel.

Além disso, destaca-se o fato de que, para o aprofundamento da democracia, não basta apenas eleger mulheres, mas sim mulheres comprometidas com transformações substanciais da cultura machista brasileira e que coloquem em pauta as desigualdades e a opressão sofridas pelas mulheres.

Crédito da foto da página inicial: EBC

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