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Mudanças no mercado de GNL intensificam disputas geopolíticas

Conteúdo especial do projeto do Brasil Debate e SindipetroNF Diálogo Petroleiro

Os fluxos internacionais de petróleo e gás natural vêm se modificando nos últimos anos, com transformações estruturais muito importantes. No que se refere ao gás natural, a expansão do comércio via marítima, com a ampliação da capacidade de terminais de regaseificação, tem modificado estruturalmente o mercado, com grandes implicações geopolíticas.

Hoje, a comercialização de Gás Natural Liquefeito (GNL), que começou após a Segunda Grande Guerra, corresponde a cerca de 10% do comércio mundial de gás natural (Benke e Srinivasan, 2017).

O gás natural é o energético que mais crescerá entre as fontes primárias de energia nos próximos anos. É considerado um energético de transição para uma economia de baixo teor de carbono: sua utilização na geração elétrica tende a servir de mecanismo de redução dos efeitos da emissão de gases do efeito estufa antes do domínio das fontes alternativas, como a solar e eólica, sem emissão de carbono.

Deverá substituir crescentemente o carvão na geração da eletricidade e ampliar sua participação nos transportes, ainda que não existam, neste momento, tecnologias para sua utilização em grande escala na movimentação dos veículos terrestres, embarcações e aeronaves. Sua utilização ocorrerá por meio da expansão da frota de veículos elétricos e híbridos, indiretamente através da demanda de eletricidade.

Estudo recente do governo americano destaca, pelo menos para os EUA, o crescimento paralelo da geração elétrica originada do gás natural e fontes renováveis, no longo prazo, com uma ligeira queda do uso do GN nos próximos anos e recuperação posterior, como apresentado na Figura 1.


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A disputa com o carvão sugere um declínio da utilização deste energético, apesar de que a redução dos custos das fontes renováveis – principalmente solar e eólica – ameaça o crescimento do gás natural. China, Índia e Brasil, com o Brasil reduzindo investimentos em 2015, foram os países com maiores investimentos em energias solar e eólica. Os dados mostram a crescente importância dos investimentos do capital financeiro neste tipo de empreendimento, com crescimento predominante na energia solar (12% em 2015). Diferente do que ocorre com o gás natural, cujos principais investidores são do próprio setor.

Se o principal uso do gás natural é a geração elétrica, no médio prazo a criação de novas capacidades de geração termoelétrica com o energético estará estabilizada, de forma que o crescimento de sua utilização vai depender principalmente da substituição dos combustíveis atualmente utilizados na geração de eletricidade, o que, por sua vez, está condicionado fortemente às tecnologias de substituição e dos preços relativos das diversas fontes de energia primária. Por outro lado, plantas de liquefação requerem um substancial volume de capitais e tanto estas como as plantas de regaseificação são intensas consumidoras de energia.

O mercado mundial de gás natural era essencialmente regional, com as rotas de gasodutos sendo determinantes para a abrangência do mercado. Nos anos 1970, a expansão da energia nuclear deslocou parte da demanda de gás natural, freando sua expansão. Os preços também eram regionais, refletindo o nível de demanda da região e a disponibilidade local de redes de gasodutos e de produção economicamente viável.

Vários fatores criaram as condições para as mudanças recentes no mercado mundial de gás natural:

1.Amortização dos investimentos na rede de logística nos mercados maduros dos EUA e Europa

2.Novas tecnologias –liquefação e regaseificação flutuantes- ampliaram a flexibilidade da logística

3.Número de países importadores e exportadores de gás cresceu muito

4.Competição com outros energéticos forçou a precificação mais próxima das situações de oferta e demanda de gás natural.

5.Aumento da oferta a ritmo superior ao aumento da demanda

6.Pressões para redução da emissão de gases de efeito estufa

7.Mercado se desloca para fora da OECD.

Assim, a expansão do comércio marítimo de gás natural deve se transformar em um elemento fundamental para a precificação deste produto energético, que deverá ter sua demanda aumentada, em busca de fontes primárias de energia com baixo carbono.

Principalmente na Europa, com uma intensificação de seu uso e limitações nas fontes tradicionais de oferta, as disputas entre os EUA como fornecedor de GNL e a Rússia, com seus gasodutos, deverão se aprofundar, estendendo-se com implicações geopolíticas para o Oriente Médio e na região do sudeste da Europa, nos mares Cáspio e Negro.

Já hoje, parte dos conflitos na Síria e Turquia, com suas implicações para a onda de migrações para a Europa, pode ser atribuída a disputas por rotas alternativas de acesso a fontes de gás natural no Irã e Catar, além dos tradicionais elementos religiosos e políticos, que influem nos conflitos regionais.

A garantia de suprimento está sob grandes incertezas, tanto como resultado do imenso volume de recursos de capital necessários para sua implantação, como por limitações das reservas descobertas, assim como pelos conflitos geopolíticos e disputas regulatórias.

É neste contexto que a renegociação do contrato de transporte de gás Bolívia-Brasil ocorrerá. Na Bolívia transformações importantes ocorrem em busca de aumentar o investimento exploratório, ao mesmo tempo em que a demanda doméstica deverá crescer com o aumento da capacidade de processamento da molécula dentro do país.

No Brasil, a Petrobras desfaz-se de seus ativos no transporte e nos terminais de regaseificação, além de reduzir sua participação na geração térmica de eletricidade. O programa de desinvestimento da Petrobras atinge fortemente a propriedade da rede de gasodutos no Sudeste, o maior mercado de gás natural do Brasil. A venda de 90% da NTS para o grupo financeiro Brooksfield, em negócio avaliado por 5,2 bilhões de dólares sofre várias contestações judiciais, mas significa mais um passo em direção a mudanças estruturais no setor.

A oferta doméstica é predominantemente offshore e de gás associado ao petróleo e, com o crescimento da produção do Pré-Sal, as perspectivas são de expansão da produção do país.

Mudanças no marco regulatório do gás natural também são esperadas para se adaptar ao novo papel da Petrobras no setor.

Leia o artigo na íntegra aqui: Perspectivas 2017 170410

Crédito da foto da página inicial: Petrobras/Divulgação

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