A mortalidade de jovens, em países em desenvolvimento, tem sido tratada contemporaneamente como um problema sociodemográfico por sua dimensão, impacto socioeconômico e, principalmente, devido a alguns casos destoarem do conjunto de países membros da Organização Mundial da Saúde, para os quais grande parte dos óbitos nesse grupo etário são decorrentes de suicídios ou estão relacionados a guerras e conflitos civis.
Entre agosto de 2009 e julho de 2010, morreram, no Brasil, 84.594 pessoas nas idades entre 15 e 29 anos. No país, dentro desse recorte etário, assim como em outras nações da América Latina, preponderam as mortes associadas à violência, como acidentes de trânsito e homicídios.
No bojo das discussões sobre mortalidade jovem, muitos autores detectam a existência de grandes desigualdades no risco de morte. Essas desigualdades geralmente estão associadas a atributos pessoais como sexo e raça/cor e elementos contextuais como condições de vida nos locais de moradia. Dessa forma, é importante compreender tanto a maneira como os atributos pessoais afetam o risco de morte de um jovem como diferentes esferas das suas condições de vida interferem no risco de óbito desse grupo etário.
Ao analisar a mortalidade jovem no País em 2010, a partir dos dados do Censo Demográfico, e associá-la às condições de vida dos domicílios e dos municípios, foi possível constatar em dissertação de mestrado de minha autoria que as condições socioeconômicas intradomiciliares afetam de maneira mais decisiva o risco de morte de um jovem no Brasil.
Identificou-se, também, que as condições de vida no domicílio são responsáveis por desigualdades significativas no risco de óbito desse grupo etário. Domicílios com condições de vida muito baixas (responsáveis pelos domicílios com baixa escolaridade, do sexo feminino, da cor/raça negra, como baixa renda per capita domiciliar) têm 18 vezes mais chances de relatar a mortalidade jovem do que aqueles com nível socioeconômico alto (responsáveis com alta escolaridade, do sexo masculino, da cor/raça não-negra e com renda per capita domiciliar alta).
Ao mesmo tempo, observou-se, também, a existência de desigualdades regionais gritantes no País. Apesar da expansão da mortalidade jovem para todas as regiões, ocorrida na primeira década deste século, conforme apresentado no mapa abaixo, entre uma região e outra há discrepâncias significativas. Por exemplo, as regiões norte e nordeste do País têm proporcionalmente o dobro de municípios comparado às regiões sul e sudeste com taxas altas ou altíssimas de mortalidade jovem.
Outro aspecto que chama a atenção no estudo é a relação entre condições de vida no domicílio e no município com a mortalidade jovem. Para um domicílio em piores condições de vida domiciliar, estar localizado no município com condições de vida altas em termos de Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) aumenta o risco de mortalidade jovem.
A probabilidade de um domicílio com piores condições de vida domiciliar relatar a mortalidade em um município com alto IDHM é 44,88% superior do que em um município com baixo IDHM. Este resultado corrobora com a perspectiva teórica de estudos que apontam que ser pobre e viver em uma área rica pode ser mais danoso para a saúde do que ser ainda mais pobre e viver em uma área também pobre.
Por fim, os resultados deste estudo completam as evidências apresentadas pela literatura sobre o assunto ao descrever tanto a existência de altas taxas de mortalidade jovem no território brasileiro quanto evidências de diferenciais no risco de morte a partir das características dos domicílios e devido às diferenças entre as condições de vida nos municípios e nas UFs.
Trabalhos recentes no nível do indivíduo têm identificado também a existência de diferenciais de mortalidade dentro do grupo etário jovem devido a atributos pessoais como sexo e cor/raça e comportamentais, como uso de álcool e drogas.
Crédito da foto da página inicial: www.pagina13.org.br
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