“A austeridade compromete o futuro das próximas gerações, aumenta a desigualdade social e destitui direitos dos cidadãos. Atuando de forma seletiva e sexista, transborda seus efeitos negativos para a saúde dos indivíduos e colabora para a degradação do meio ambiente. Em um país ainda tão desigual como o Brasil, tal opção política compromete o papel redistributivo da política fiscal, ao exigir reformas profundas e cortes drásticos nas despesas públicas. Com a atual estrutura de gastos públicos, o Brasil é o país que mais reduz a desigualdade na América Latina por meio de transferências e outros gastos sociais, compensando uma carga tributária perversa, que contribui para amplificar a desigualdade. Portanto, abrir mão desse instrumento redistributivo é optar por uma sociedade cada vez mais desigual e segregada, com uma população cada vez mais destituída de acesso a direitos sociais básicos”.
Com esse trecho da conclusão do livro é possível compreender a importância da análise apresentada por diversos pesquisadores envolvidos no livro que se propuseram a analisar os efeitos da prática de austeridade no Brasil.
Economia para poucos traz um diagnóstico essencial para compreender os efeitos cruéis dessas políticas no Brasil. Com uma abordagem importante, que combina a discussão macroeconômica com seus efeitos sociais, em diversas áreas, o livro torna-se um documento central para quantificar os efeitos nocivos dessa prática no Brasil.
Os resultados das políticas de austeridade no Brasil se assemelham àqueles observados em diversos países da periferia europeia. Ao contrário do prometido, os cortes no Orçamento acabaram agravando a recessão e a frustração de receitas do governo.
Embora não tenham ajudado a melhorar o quadro fiscal, os sucessivos cortes realizados no orçamento, como demonstrado nos diversos capítulos do livro, contribuíram fortemente para agravar os mais importantes problemas sociais brasileiros.
Os autores apontam que a política de austeridade pode estar associada ao aumento do desemprego, da desigualdade, da miséria, da violência urbana, do desmatamento, das epidemias, entre outros efeitos já observados. Além disso, apresentam uma análise de que a persistência dessa política contribuirá para o aumento da mortalidade infantil, impedirá o alcance das metas previstas para educação básica e superior e a ampliação do acesso à cultura e terá consequências graves para a economia brasileira.
Com base nos resultados apresentados no livro, fica nítido que realizar intensos cortes sociais gera caos e vulnerabilidade, num país já tão desigual. Quem mais perde hoje são os trabalhadores e a população que se encontra na escala mais vulnerável da sociedade.
Trata-se de um programa de concentração de renda e riqueza, gerando, como o título aponta, uma economia para poucos. Mas o livro não pretende apenas apresentar um diagnóstico dos Impactos Sociais da Austeridade. Os autores, em todos os capítulos, procuram apontar as alternativas que permitem promover um desenvolvimento mais inclusivo e mais transformador, com avanços nas diversas áreas discutidas no livro.
Como mostra o livro, será central rever o teto de gastos para uma trajetória de retomada do crescimento com maior igualdade. Mas os autores colocam que é preciso ir além, é necessário adotar uma nova estratégia que tenha os investimentos sociais como ferramenta de desenvolvimento e instrumento para melhorar a vida das pessoas, viabilizando o exercício pleno da cidadania.
Economia para poucos – Impactos sociais da austeridade e alternativas para o Brasil
Organização: Ana Luíza Matos de Oliveira, Esther Dweck e Pedro Rossi
Número de páginas: 372
Ano: 2018
Editora Autonomia Literária
Lançamento durante a FLIP 2018, em Paraty (25 a 29 de julho)
Crédito da foto da página inicial: Getty Images/Oli Scarff
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