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Instabilidade política no Brasil e o enfrentamento da ‘coronacrise’

Bolsonaro, surfando na onda do antipetismo, em um momento de baixo crescimento econômico, à época da campanha, fez diversas promessas de campanha pautadas, principalmente, em políticas pró-mercado, anticorrupção e se mostrou contrário às pautas das minorias sociais. Com tais promessas (materializadas em um programa de governo vago, com chavões e que não foi discutido em debates públicos pelo candidato), Bolsonaro (atualmente sem partido) venceu as eleições presidenciais para mandato 2019-2022.

Em uma aliança formal ou não, junto com ele venceram grande número de deputados federais eleitos pelo PSL, Partido Social Liberal (pelo qual concorreu à Presidência), bem como governadores de Estados dinâmicos (São Paulo e Rio de Janeiro) e vários outros políticos. Sua base no Congresso juntamente com outros deputados federais e senadores tocavam pautas pró-mercado baseadas nas reformas trabalhistas, Previdência e outras, com o apoio de políticos que oscilavam entre o apoio ao governo e não. Assim, o presidente iniciava seu mandato em um ambiente propício para sucesso na sua governabilidade.

Porém, com o início do mandato, a crise política já era recorrente, com o “caso Queiroz”, polêmicas pautas conservadoras, confronto com a mídia, dentre outras. Mesmo nesse cenário, segundo as pesquisas feitas pelo Datafolha no ano de 2019, Bolsonaro finalizou o primeiro ano do mandato com 30% de aprovação (avaliação – ótimo e bom) contra 32% de aprovação no início do mandato e 36% de reprovação (avaliação – péssimo) contra 30% de reprovação do início do mandato. Nessa conjuntura, a crise política foi amenizada especialmente pela pressão do mercado para as reformas propostas, bem como pelo tímido crescimento econômico, baixa inflação e aumento do emprego, sobretudo o precarizado, dentre outros fatores.

Porém, nesse cenário, uma crise sanitária e econômica provocada pelo novo coronavírus surge colocando em xeque a “estabilidade” que abafou a possibilidade de crise política profunda em torno do presidente em 2019. Nesse cenário de pandemia, Bolsonaro tinha as opções de acatar ou não as recomendações de organizações internacionais e as formulações de políticas dos países que já estavam passando por situações mais graves e por maior período, sobretudo, as políticas econômicas para amenizar os efeitos econômicos e sociais do aumento do desemprego e perda de renda. Apesar de algumas políticas tímidas para enfrentamento da “coronacrise”, a escolha no discurso do presidente foi não acatar essas recomendações e experiências internacionais, inclusive recomendações do ex-ministro da saúde Henrique Mandetta.

Bolsonaro contrariou as recomendações de isolamento social da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde e iniciou uma guerra política contra os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário dos entes federativos, inclusive, com os ministros do Executivo federal, posicionando-se contrário ao isolamento social e transferindo para os governadores, prefeitos e para o Legislativo a culpa dos problemas econômicos e sociais de desemprego e perda de renda da população brasileira durante a “coronacrise”.

Além da ineficácia temporal de atuação do governo para amenizar os impactos da “coronacrise” no Brasil, o governo criou conflitos internos no seu governo, principalmente com o ex-ministro da saúde Mandetta e atualmente o ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Mandetta foi demitido e Moro, que era uma das bases de apoio social do governo, se demitiu.

Além disso, o governo tem sofrido baixas no apoio de governadores que o apoiavam durante a campanha presidencial (como o governador de São Paulo João Dória) e outros políticos do poder Legislativo .O mercado sinalizou de forma negativa a saída do Sérgio Moro do Ministério da Justiça e são visíveis com a queda de Bolsa de Valores brasileira e desvalorização cambial do real no momento do anúncio da saída do ex-ministro da Justiça Moro do governo. Assim, diante de uma crise multidimensional causada pela pandemia do coronavírus, uma crise política se alastra pelo país.

Em um ambiente de crise econômica, uma crise política torna-se mais factível por causa dos impactos diretos na população, porém a atuação dos políticos nesse processo pode amenizar a possibilidade de uma grave crise política e institucional. Nesse cenário de crise sanitária, com efeitos severos sobre a população, Bolsonaro amenizou a situação e criou uma guerra contra as instituições do Brasil, seja política, judiciária e de comunicação contribuindo para a reduzir a credibilidade dessas instituições. Além disso, o Presidente construiu uma crise política em torno da sua administração retirando a credibilidade do seu governo podendo impactar na sua governabilidade.

Esse cenário de instabilidade política no Brasil em um ambiente de elevada incerteza em âmbito mundial traz um elevado risco para o enfrentamento de uma crise sem precedentes e para a recuperação econômica posterior, aprofundando em um caos econômico, político e social de forma duradoura.

Crédito da foto da página inicial: José Cruz/Agência Brasil

Fontes:

Datafolha; Folha de São Paulo. Avaliação do Presidente Jair Bolsononaro. 2019. Disponível em: http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2019/12/23/57102c2d2b4f095adbec95cb335c7066abc.pdf, último acesso em 30/04/2020.

G1. Retrospectiva 2019: a economia brasileira em 7 gráficos 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/retrospectiva/2019/noticia/2019/12/17/retrospectiva-2019-a-economia-brasileira-em-sete-graficos.ghtml, último acesso em 30/04/2020.

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