Há quatro meses, quem ousasse dizer que a inflação apresentava uma tendência de queda seria submetido a um corredor polonês pelos críticos do governo. Se fosse economista, seria definido como aparelhado pelo PT. Jornalista, seria chamado de chapa branca. Pois a inflação está em queda desde então e, em julho, atingiu a marca anual de 6,50%, contra 6,52% no mês anterior.
Milagre? Nem um pouco. A queda da inflação era previsível como a chegada do dia depois da noite. Os preços, no Brasil, sempre sobem mais no primeiro semestre do que no segundo. Lição de curso básico de economia para principiantes.
Bastava querer fazer boa economia — em vez de má psicologia, aumentando a carga sobre o governo em ano eleitoral.
Olha que coisa difícil. No começo do ano, as passagens de avião estavam em alta, bem como as diárias de hotel e transportes, de forma geral. Era o efeito Copa.
A partir de julho, depois da Copa, era óbvio que a força que jogava os preços para cima iria diminuir e até acabar. O item transportes, por exemplo, teve queda de 0,018%.
Os alimentos ficaram parados, e até tiveram uma queda de ver no microscópio: 0,04% negativos. Uma decepção para quem torcia para que a inflação do tomate durasse o ano inteiro, prejudicando o bolso dos mais pobres e diminuindo o apoio ao governo.
Teria sido prudente fazer a lição de casa: apesar de todos os contratempos, o ano 2014 seria e foi um ano de safra recorde. Não foi um presente do céu, mas um planejamento que funcionou.
Se a energia elétrica não tivesse subido, julho teria registrado uma deflação de 0,10.
Daria para imaginar o que vemos hoje? Claro. Bastava encarar a realidade econômica como ela é — e não como se gostaria que fosse. Interessada em criar um apocalipse econômico na véspera da eleição, a oposição e seus aliados colocaram o governo contra a parede. Exigiam alta da gasolina, de impacto direto nos preços, ao mesmo tempo em que denunciavam qualquer arranhão acima da meta.
Clamavam por juros altos, que implicam na transferência de bilhões de reais dos cofres públicos para o setor privado mas, ao mesmo tempo, denunciavam a falta de controle nos gastos oficiais.
É correto reconhecer que essa pressão teve algum efeito.
A inflação não subiu, mas o consumo se retraiu e o crescimento foi afetado. Os juros para o consumidor e para o empresário atingiram um patamar sem qualquer relação com o nível do PROCOM, mas apenas com possibilidade de os bancos retornarem com gosto à ciranda financeira, onde o ganho é alto e o risco é zero. O consumo foi dificultado pelos juros nas alturas.
Para os próximos meses, o governo deve reforçar a oferta de crédito nos bancos públicos, como uma tentativa de vitaminar o crescimento. Pode-se prever a melodia do coral dos amigos do mercado contra a presença do estado na economia.
Com os números do IBGE, a oposição brasileira acumula uma terceira profecia fracassada no ano eleitoral de 2014. A primeira foi o apagão e a segunda, a Copa que não iria ocorrer.
A terceira era o risco de uma hiperinflação provocada pela alta descontrolada dos gastos do governo. A realidade está aí. Para a população uma alegria. Para a oposição, um vexame.
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