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Há muita oferta de ativo de petróleo no mercado: não é hora de vender

Conteúdo especial do projeto do Brasil Debate e SindipetroNF Diálogo Petroleiro

Mesmo considerando que os mais fáceis ativos de venda no mercado de petróleo são as áreas de exploração, onde as empresas obtêm o direito de encontrar o petróleo, a situação não está fácil para os vendedores. As dificuldades de abertura de novas áreas de exploração não estão presentes apenas no Brasil, o que ficou também evidenciado na recente experiência mexicana.

Como lembrou o ex-diretor da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) Haroldo Lima, em recente artigo, as comparações entre as duas situações mostraram que nem a experiência com empresas internacionais – México como monopólio estatal por 80 anos e abrindo-se pela primeira vez para as multinacionais e Brasil estando na 13a. experiência de leilões –, nem o tipo de contrato, partilha de produção no México com cláusulas de retomada pelo Estado e  concessão brasileira de conhecimento amplo pelas petroleiras do mundo, podem explicar o mesmo resultado. O que há em comum é que ambos os leilões ocorreram numa fase de baixa do ciclo dos preços de petróleo.

Muitas empresas estão ofertando seus ativos. A Rosneft da Rússia quer trocá-los por outros melhor situados na Europa. O Irã coloca muitas novas áreas exploratórias para as internacionais e alguns fundos soberanos, como o do Cazaquistão, estão em programas de vendas de ativos da área de petróleo e gás.

Na área de serviços, as empresas americanas Halliburton e Baker Hughes se fundiram e estão obrigadas a vários desinvestimentos para atender às exigências regulatórias dos EUA, oferecendo muitos ativos à venda estimados em mais de 5 bilhões de dólares. Os negócios, no entanto, parecem estar demorando mais do que o esperado, dado os adiamentos para o closing das operações.

No passado, os ciclos de baixa de preço de petróleo foram acompanhados de ondas de fusões entre as empresas de petróleo com uma consolidação e aumento de concentração no setor. A fusão Shell-BG parecia apontar para esta tendência, no entanto, as perspectivas de um longo período de preços baixos estão criando também dificuldades neste específico mercado de ativos.

A consultoria Energy Intelligence estima que um terço das operações de Fusões e Aquisições de exploração e produção (E&P) em 2015 até setembro, sem a Shell-BG, no valor de quase 50 bilhões de dólares, correspondem a negócios com ativos em produção, um terço são para aquisições corporativas e quase um quarto são para compras de ativos ainda em desenvolvimento, sendo menos de 10% para exploração.

A consultoria IHS chamou a atenção para um aumento de 23% em 2014 sobre o ano anterior dos gastos com Fusões e Aquisições de empresas de E&P, apesar de que estas atividades em 2013 foram as mais baixas, desde 2008. Em 2014, estas operações alcançaram 173 bilhões de dólares, quando foram de 250 bilhões em 2012. Para 2015, as expectativas são de que as operações serão muito menores, como os dados até setembro já revelaram.

Com os preços de petróleo permanecendo baixos, muitas empresas de petróleo estão buscando se desfazer de parte de seus ativos, aumentando a oferta no mercado. A Shell e a Repsol, depois das aquisições da BG e da Talisman, respectivamente, estão limpando seus portfólios de ativos e empresas menos atraentes, ofertando grande volume de ativos ao mercado.

Se não há operações de Fusões e Aquisições com o E&P muitas empresas estão tentando se desfazer de seus ativos de midstream e downstream. A Shell está querendo sair do mercado de GLP e está ofertando muitos ativos deste segmento, avançando muito lentamente com operações específicas em alguns mercados.

A francesa Total tem um programa de desinvestimento de 10 bilhões de dólares até 2017, mas vem encontrando muito mais facilidade nos ativos de outros segmentos, como o sistema de dutos e logística de processamento e armazenagem na Europa, procurando preservar seus ativos de downstream, que passam por uma reestruturação, para aproveitar as grandes margens deste momento.

A Chevron anunciou um plano de desinvestir 15 bilhões de dólares até 2017, vendendo ativos de E&P na América do Norte, Europa e África, além de se desfazer de muitas licenças exploratórias na Austrália. Exxon e Statoil, apesar de não anunciarem metas de desinvestimento para os próximos anos, têm sido muito ativas na oferta de ativos ao mercado.

O mercado está muito competitivo, porém há a dificuldade de avaliação dos valores das firmas devido às incertezas sobre o preço do petróleo, o alto grau de endividamento das empresas à venda, e muitas companhias estão simplesmente ajustando seus balanços às novas necessidades financeiras de curto prazo.

As operações de maior sucesso são aquelas em mercados específicos, situações particulares: grande aderência estratégica com portfólio do comprador, segmentos de mercado em que há um sócio estratégico interessado, preços muito baixos dos ativos.

Nestas circunstâncias, é muito difícil implementar um plano de grande volume de desinvestimento, sem depreciar o valor dos ativos da empresa que vende.

Pelo lado da demanda, há uma crescente campanha contra os investimentos na área de combustíveis fósseis . Segundo a consultoria Arabella, que acompanha este movimento, houve um grande aumento no número e tamanho das instituições que decidiram se afastar dos investimentos em combustíveis fósseis, passando de 181 para 436 instituições, com ativos que variaram de 50 bilhões a 2,6 trilhões de dólares de ativos entre setembro de 2014 e setembro de 2015.

Por exemplo, um fundo de pensão dos servidores municipais da cidade de Oslo, Noruega, com mais de 9 bilhões de dólares em seu portfólio, sob pressão do Partido Verde, decidiu não mais investir em empresas de combustíveis fósseis. A mesma pressão sobre o gigantesco fundo soberano do país, com 860 bilhões de dólares de investimentos, já havia afastado, em 2014, os recursos noruegueses de projetos na área de carvão e areias betuminosas e este ano foi anunciado que eles se afastariam também de projetos que transformassem florestas tropicais em plantações de oleaginosas para biocombustíveis.

Pelo lado da oferta, as operações de Fusões e Aquisições têm sido muito mais hostis do que negociais. O valor das ações das empresas de petróleo está muito baixo e as companhias não estão dispostas a se vender por valores tão depreciados. Compradores, que consideram que os preços devem se recuperar mais rapidamente, são potenciais proponentes das aquisições hostis, aproveitando-se da maré de baixos valores de mercado das empresas. Os potenciais alvos estão utilizando dos mecanismos corporativos de defesa, como as poisonpills, nas suas estratégias contra as compras.

Nestas circunstâncias internacionais, como é que a Petrobras vai conseguir vender ativos de 15 bilhões de dólares até 2016 e mais 32 bilhões até 2019?

Crédito da foto da página inicial: EBC

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