A reportagem é de Javier Lafuente, publicada pelo jornal El País, 13-10-2014
Os bolivianos votaram entre a quase certeza de uma reeleição esmagadora do presidente e a esperança opositora de não terminar derrubada. Assim, segundo as primeiras pesquisas, o empresário Samuel Doria Medina (Unidade Democrata) teve entre 24% e 25,3% dos votos, quase 10 pontos a mais do que mostravam as últimas pesquisas presidenciais.
O ex-presidente Tuto Quiroga chegaria aos 9% dos votos. Os outros dois candidatos, o ex-prefeito de La Paz, Juan del Granado, e o ambientalista Fernando Vargas, conseguiriam 3% dos votos cada um.
Morales conseguiu também, pela primeira vez, o triunfo no Estado de Santa Cruz, o motor econômico do país, bastião opositor e um dos focos de maior tensão durante seu primeiro mandato, com o desafio autonomista de 2008. Apesar de seu discurso esquerdista e anticapitalista, Morales aplicou uma lógica liberal com os empresários e assumiu como próprio o caminho que aqueles apresentaram no último ano. Da realização ou não destas promessas dependerá seu avanço no leste do país.
A propaganda estatal e os índices de popularidade de Morales propiciaram uma campanha muito morna, sem debates. O presidente não quis participar de um debate com o resto dos candidatos. O empresário da indústria do cimento, Doria Medina, da União Democrata (UD), um dos homens mais ricos do país, enfrentava Morales pela terceira vez. Partidário de manter o Estado Plurinacional criado pelo mandatário, seu cartão de apresentação é a experiência como homem de negócios.
A figura de Doria Medina diminuiu com a entrada de Tuto Quiroga (Partido Democrata Cristão) na disputa no meio do ano. Residente nos Estados Unidos, é o único dos candidatos que defende a ruptura do atual caminho tomado no país. No final, teria conseguido aglutinar o que ele denominou na última semana como “voto útil”.
O ex-prefeito de La Paz, Juan del Granado (Movimento Sem Medo) era apoiado por sua boa gestão à frente da prefeitura da capital, entre 1999 e 2010. Seu slogan foi: “Nem com o passado neoliberal nem com o presente estancado”. O candidato com pior colocação nas pesquisas era Fernando Vargas (Partido Verde da Bolívia), um dos líderes das marchas indígenas que conseguiram interromper parcialmente a construção de uma estrada no Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), um dos episódios mais criticados e obscuros do segundo mandato de Morales. Sua candidatura é considerada, em certa medida, a das comunidades indígenas que não concordam com o oficialismo.
Se existe uma data marcada a fogo em toda a América Latina certamente é a de 12 de outubro.
Na Bolívia, a chegada de Evo Morales ao poder em 2005 permitiu a progressiva inclusão do setor mais discriminado, os indígenas mestiços, graças ao crescimento econômico vivido pelos altos preços das matérias-primas e dos hidrocarbonetos. Desde que se instalou no Palácio Quemado, Morales fixou como objetivo a ruptura com qualquer vestígio de colonialismo, seja na prática ou de forma simbólica. Por isso, não é circunstancial a data escolhida pelo presidente para convocar eleições que marcam uma continuidade no país andino, depois de uma década de crescimento e de estabilidade política.
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