Os gráficos de série temporal que utilizam as semanas como unidade de medida, recentemente adicionados a várias das páginas do MANCHETÔMETRO, começam a revelar detalhes da estratégia editorial dos meios de comunicação antes somente vislumbradas pelos gráficos de dados agregados. Vamos a elas.
A COBERTURA NEGATIVA
A série temporal semanal de valências contrárias aos candidatos (gráfico abaixo) revela algo já bem peculiar. Os dados agregados já mostravam a liderança inconteste de Dilma nos textos negativos. Mas o gráfico semanal permite ver que Marina Silva superou a candidata do PT nesse quesito no período que vai de sua indicação à cabeça de chapa do PSB, 23 de agosto, até a primeira semana de setembro. Na verdade, logo após a indicação, os negativos de Dilma têm forte queda e os de Marina forte alta. Mas já na semana de 24-30 de agosto Dilma volta a subir, paralelamente a Marina, até ultrapassá-la na primeira semana de setembro, atingindo na segunda semana daquele mês o recorde da série toda, que é de 24 notícias negativas nas capas dos jornais. Os negativos de Marina continuaram a cair até atingirem a marca de 3 por semana, na terceira semana de setembro, enquanto Dilma flutuava entre 18 e 19 notícias negativas.
Como podemos interpretar essa evolução? A cobertura negativa dada às duas candidatas ao final de agosto e começo de setembro de fato só poderia beneficiar o outro contendor, Aécio Neves, que nesse período já amargava um terceiro lugar distante nas pesquisas. Ou seja, as mídias ajudaram a reavivar a candidatura do PSDB, investindo na desconstrução de Marina. Mas o foco da cobertura negativa logo voltou a recair exclusivamente sobre Dilma, aliviando a carga sobre a candidata do PSB.
Seria esse comportamento, revelado nos dados agregados, comum a todos os jornais ou eles se comportaram de modo diferente?
A segunda resposta é a correta. Quando olhamos para os gráficos de negativas por jornal constatamos que O Globo e Estado de S. Paulo de fato aumentaram as negativas de Marina no período, mas mantiveram Dilma muito acima da candidata do PSB em matéria de textos desfavoráveis nas capas, conforme os gráficos abaixo:
A Folha de S. Paulo tem um comportamento diferente, primeiro no que toca ao número total de matérias para cada candidato, muito inferior ao de seus pares. Esse jornal não politizou tanto a cobertura das eleições. Por exemplo, ainda que Dilma seja campeã inconteste de cobertura negativa nos três jornais, enquanto no Estado e no Globo, somente nas capas, os textos negativos de Dilma está na casa dos 30 por semana, na Folha eles variam em torno de 9. Essa desproporção se repete para os outros candidatos, como mostra o gráfico abaixo.
Esse mesmo gráfico revela que a Folha foi o único jornal em que, por um breve período, os negativos de Marina superaram os da candidata da situação, e isso se deu entre a última semana de agosto e a primeira de setembro. Há de se notar também a queda vertiginosa dos negativos de Marina nas semanas que se seguiram, até chegar a zero textos negativos, na semana de 21-27 de setembro. Os outros jornais também diminuíram sensivelmente a cobertura negativa de Marina, mas não chegaram a tanto.
LENDO AS VALÊNCIAS NEUTRAS
A série temporal semanal de valências neutras dos candidatos complementa o gráfico anterior. Nela podemos ver que a partir da morte de Eduardo Campos, Marina Silva passa a ser superexposta nas capas dos grande jornais, como podemos ver abaixo no gráfico com dados agregados dos três jornais.
Por mais de um mês, seu número de matérias neutras por semana superou o de Dilma em mais de 10. Se levarmos em conta o fato de a campanha de Marina ter uma estrutura partidária precária, se comparada às de PT e PSDB, e ao diminuto tempo de horário eleitora gratuito de sua chapa, é razoável supor que a superexposição proporcionada pela grande mídia foi a principal causa do crescimento vertiginoso das intenções de voto em Marina Silva.
Novamente cabe perguntar se esse comportamento foi homogêneo ou variou de jornal para jornal. Vejamos os gráficos de neutras abaixo:
Nesse caso temos um comportamento mais homogêneo. Todos os três jornais superexpuseram Marina a partir da morte de Eduardo Campos, no que toca notícias neutras, passando inclusive os números de Dilma nos três casos, por várias semanas. Há de se notar também a volta de Aécio Neves. O candidato do PSDB havia sido relegado a um “terceiro” plano da cobertura dos jornais paulistas, mas não em O Globo. E essa volta não vem acompanhada de um crescimento expressivo de negativas, como mostram os gráficos anteriores, para sorte da candidatura tucana.
COBERTURA DA ÚLTIMA SEMANA
Como o calor da campanha aumentou sensivelmente, vamos atentar com mais detalhes para a cobertura da última semana nos gráficos de neutras e contrárias que seguem abaixo:
Há pronunciado viés contrário à candidatura do PT nos três meios pesquisados, mas esse viés não se dá de modo homogêneo. O Globo e o Estado apresentam coberturas de perfil idêntico nessa semana. São quase 2,5 textos negativos para Dilma para cada um neutro nas capas desse jornal, no cômputo semanal.
Já a Folha traz uma proporção de quase 1:1 para Dilma. É claro que ao compararmos negativos, vemos que a mesma Folha dedicou 12 matérias negativas nas capas para Dilma na semana, quase duas por dia, enquanto Marina recebeu somente uma em todo o período. A mesma desproporção aguda se nota nos outros dois jornais. Outra maneira de analisar comparativamente esses dados é olhar para a proporção interna de cada candidato. Enquanto Dilma tem 1:1 de negativas/neutras na Folha, Marina conta com um confortável 1:4, ou seja, para cada negativa que recebe, há quatro neutras.
Em suma, ao final da campanha para o primeiro turno, os jornais O Globo e Estado de S. Paulo exibem um viés escancarado e agressivo contra a candidatura do PT. A Folha de S. Paulo também apresenta viés pronunciado contra a mesma candidatura, mas aquém de seus parceiros e/ou competidores.
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