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Foto do escritorAnelise Peixoto dos Santos e Felipe Silva

Eleições de 2022 e o debate mais para o centro

Atualizado: 16 de ago.


Embora as forças de centro tenham perdido espaço nos últimos anos, as eleições consagraram a frente ampla pró-Lula e personagens mais moderados como Simone Tebet, do MDB. O que pode abrir caminho nessa direção em pleitos futuros

A euforia bolsonarista está posta, mas o bolsonarismo é maior que o Bolsonaro. O movimento bolsonarista consolidou um espectro político típico na história do Brasil, em alguma medida até comparável ao “lulismo” e ao “varguismo”. Inspirado pela figura de um presidente herói, salvador da pátria, capaz de despertar um sentimento de devoção praticamente incondicional.


No Legislativo, os deputados e senadores mais votados conseguiram compilar uma expressiva quantidade de votos, reflexo da polarização política do país. A ascensão de temas ligados a pautas sociais e de liberdade tomaram de assalto o palco da cena política.

Os deputados federais mais bem votados, por exemplo, em primeiro lugar Nikolas Ferreira (PL-MG) que recebeu 1.492.047 de votos, e em segundo lugar Guilherme Boulos (PSOL-SP) com 1.001.472 de votos, duas figuras antagônicas entre si, espelham a divergência na política nacional.


De um lado, um deputado do elo bolsonarista, que saiu publicamente em defesa do candidato do PL à Presidência, principalmente no período de isolamento social da pandemia; e, de outro, um deputado à esquerda, que não abdicou em nenhum momento da defesa de Lula (PT).


No senado, entretanto, os candidatos eleitos nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste foram apoiados publicamente pelo atual presidente, o que reforça a bagagem e a capilaridade expressiva do bolsonarismo nas eleições. No limite, esses senadores expressam a capacidade que o discurso de Bolsonaro tem de clivar um debate extremista, reforçando a discussão do “nós contra eles”. Um discurso carregado de costumes conservadores e ideologias reacionárias.


A veemência de candidatos eleitos apoiados por Bolsonaro leva-nos a olhar com maior cuidado quem são seus eleitores que, sim, apresentam uma grande diversidade. Isto é, o eleitor bolsonarista em 2022 é realmente bolsonarista – soa até mesmo redundante, mas convém explicar melhor.


O que queremos dizer com isso é que a imagem de um eleitor branco, do sexo masculino, de classe média alta, não representa com fidelidade o público atraído pelas falas conservadoras, reacionárias e ideológicas do atual presidente. O fato de Bolsonaro ter se erguido como paladino da justiça, marido de uma mulher evangélica e conservadora, o insere em ambientes onde Lula não obtém tanta aceitação. O presidente se valia de um versículo bíblico, João 8:32: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Não seria exagerado afirmar que talvez seja o único trecho bíblico conhecido pelo presidente, ironicamente investigado, juntamente a membros de sua família, de utilizar-se largamente de fake news.


A figura carismática do presidente, aparentemente do povo, gerou efeitos sobre as massas conservadoras, e, valendo-se do discurso da fé reuniu um descontentamento político e uma discussão repulsiva sobre pautas de costumes nunca vista no Brasil.


Em 2022, Bolsonaro acabou se aliando a membros da “velha política”, além de nomear extremistas para ministérios estratégicos, como o da Educação. Na economia, o ministro liberal não conseguiu dar a ênfase que desejava na agenda de privatizações – embora tenha enfraquecido as estatais e desmontado as estruturas de regulação de estoques – e acabou por deteriorar o panorama fiscal do país para garantir a eleição.


Um fato importante a se destacar é que, apesar de tudo, o bolsonarismo tornou quase irrelevante o principal rival do PT nas eleições anteriores, o PSDB. Não porque o cenário está repleto de extremismo, mas porque o PSDB foi aos poucos se desidratando e se aliando a um dos polos, como exemplificam a campanha “BolsoDoria” em 2018 e o recente apoio de Rodrigo Garcia ao candidato carioca eleito para governar de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aliado e ex-ministro de Bolsonaro.


A ascensão de um ex-presidente, que governou o país por 8 anos e conseguiu eleger sua sucessora duas vezes, na atual eleição acendeu um alerta entre aqueles que não simpatizavam com o espectro político da esquerda. Apesar de o PSDB perder fôlego, o discurso ao centro ganhou algum alento com o desempenho da candidata à Presidência e senadora Simone Tebet (MDB-MS). Ela conseguiu surpreender parte dos eleitores por ter capitaneado mais votos que Ciro Gomes (PDT), que parecia a alternativa desenvolvimentista e o nome da esquerda alternativo a Lula.


Tebet conseguiu aliar eleitores em três vertentes: i) os que declararam ser impossível votar em Bolsonaro, mas que não gostariam de votar em Lula; ii) os que não iriam de jeito nenhum votar em Lula, mas não se sentiam confortáveis em votar em Bolsonaro; e iii) os que acreditavam que a alternância de poder seria saudável para a democracia, sobretudo na tentativa de eleger uma mulher que conversa com ambos os espectros políticos.


A candidata Tebet ganhou notoriedade na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID-19 em 2021, onde tratou com rigor as investigações. Conquistou eleitores pela voz sensata, a exposição de propostas concretas e aplicáveis, a disposição para o diálogo. Sua atuação destacada na frente ampla que apoiou Lula no segundo turno, e que muitos consideram ter sido fundamental para a vitória do petista, pode sinalizar o surgimento de um caminho ao centro na política nacional.


Sinalizar uma força capaz de ajudar a desidratar o extremismo de direita, essa novidade que nos assaltou nos últimos anos e que ainda mostra sua cara nas inacreditáveis manifestações que pedem anulação das eleições e intervenção militar, no que parece ser um terceiro turno ainda sem data pra terminar.


Anelise Peixoto dos Santos é graduada em Administração Pública pela Faculdade de Ciências Aplicadas da UNICAMP e mestranda em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da mesma universidade. É pesquisadora do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia – IE/UNICAMP e desenvolve pesquisas relacionadas a inovação, indústria, desenvolvimento regional e qualidade de governo.


Felipe Silva é graduado em Relações Internacionais e Economia pela FACAMP e doutorando de Economia pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Desenvolve pesquisa relacionadas a macroeconomia, finanças internacionais e conjuntura



Crédito da foto da página inicial: Ricardo Stuckert

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