A definição de instinto está na diferença entre a mente com a qual nascemos e a mente que formamos, via aprendizado, cultura e socialização. Instinto é, essencialmente, a parte do nosso comportamento que não é fruto de aprendizado. Contudo, nosso ambiente (e, portanto, nosso aprendizado) pode ter uma influência poderosa no modo pelo qual nossos instintos se expressam.
O instinto é constituído de elementos humanos, herdados, de ação, desejo, razão e comportamento. Os instintos básicos, no caso dos humanos, são aqueles que se formaram durante nosso tempo na savana: de sobrevivência, de reprodução, de competição e de proteção. A descoberta da sequência completa do genoma humano revelou que as características herdadas são transmitidas por genes.
Ao longo do ciclo da vida humana contemporânea há certa predominância de uns ou outros instintos em indivíduos e/ou agrupamentos. Durante a fase de vida reprodutiva, os instintos sexuais de reprodução se exacerbam e, junto com eles, os de competição são colocados à prova na disputa por parceiros.
O consumismo exibicionista, para atração do sexo oposto, caso não seja controlado, leva a gastos perdulários. É postura contrária às Finanças Racionais, que sugerem a fase de vida profissional ativa ser a de acumulação de reservas para a aposentadoria e a de vida inativa ser a de consumo dessas reservas.
Entretanto, a fase de acumulação coincide com os hormônios estarem “à flor da pele”. As necessidades imediatas de prazer (“sexo, drogas e rock’n roll”) são muito mais importantes e presentes do que as necessidades futuras de tranquilidade (“sombra-e-água fresca”).
Jovens que têm dificuldades em exercer o autocontrole, quando chegam à fase de aposentados e, para consumo imediato, têm que vender ou sacar o pouco que conseguiram guardar, preferem não fazê-lo. Eles se dispõem a sacrificar seu nível de consumo por tempo suficiente até que o bem ou a aplicação se valorize – ou algum evento fortuito, tipo “Deus dará” – o favoreça. Só então pensam no futuro! Quando ele já chegou…
Indivíduos capazes de planejar a aposentadoria, investindo em ativos que geram renda, por exemplo, aluguéis de imóveis ou participação em rendimento em pool de flats, tendem a manter seus níveis de consumo intactos. Indivíduos que não sabem planejar a aposentadoria, ou não sabem extrair renda de seus ativos, por exemplo, dividendos de ações ou renda vitalícia de seu PGBL, apresentam quedas importantes em seus hábitos de consumo, reduzindo assim drasticamente seu padrão de vida.
Diante do volume disponível de recursos investidos anualmente (12% da renda bruta) em PGBL, caso tenha usufruído do incentivo fiscal ao longo dos 35 anos de sua vida profissional, a tentação de uma retirada única pode levar ao “risco loteria”, quando o sujeito acha que sua vida está resolvida, então, pode arriscar à vontade. Sem prática de empreendedorismo, pode colocar tudo a perder em uma aventura de trabalhar por conta própria ou “realizar o sonho” de enriquecer-se como microempresário.
Há os que ficam entre as retiradas programadas — ao longo de 60 ou 120 meses — e aqueles que optam pela renda vitalícia com pequenos saques mensais que se estendem pelo resto da vida. São escolhas que dependem do perfil de cada um, de uma mistura de fatores que têm a ver com projetos de vida, com a saúde e com quanto tempo a pessoa imagina que vai viver. São dependentes de trajetórias.
Questão financeira contenciosa, portanto, é a disjuntiva entre o conceito ideal de racionalidade humana e a realidade da vida cotidiana. Antes do advento das Finanças Comportamentais não houve nenhum esforço sistemático para fornecer respostas às questões sobre como os investidores se comportam, na realidade, e como suas respostas afetam o desempenho dos mercados financeiros.
As pessoas de esquerda tendem a ter o instinto de proteção predominante, defendendo a eliminação das desigualdades sociais, enquanto as de direita com instinto de competição exacerbado insistem na convicção de que as desigualdades individuais são naturais e, enquanto tal, não são elimináveis.
Aquelas criticam até os trabalhadores que investiram durante toda sua vida ativa para se tornarem rentistas quando se aposentam. É uma crítica moral, inspirada na suposta “virtude superior do trabalho produtivo”. Foi herdada da tradição religiosa contra-usura que conformaram pessoas a se submeterem à labuta sob ordens de outras ao longo dos séculos.
A esquerda deveria ver “os pequenos rentistas como um proletariado dos grandes capitalistas”, sofrendo com os operadores das finanças relação análoga à de exploração que “o proletariado trabalhador tem com a classe patronal”. Os participantes do mercado financeiro pertencem a classes distintas, com distintos interesses, experiências e propósitos.
Há diferentes graus de especialização diante de cada situação com capacitação de enfrentamento em termos de cinco estágios: principiante, neófito ou amador; principiante mais avançado; competente; proficiente; e especialista. Dada essa heterogeneidade de saberes, os amadores deveriam investir em suas carreiras profissionais, para obter sucesso no mercado de trabalho, e aprender também a defender seus ganhos da corrosão inflacionária em investimentos de renda fixa (pós ou prefixados), e não em renda variável no mercado de capitais.
No mercado de ações, os insiders elevam as cotações mais e mais, e vendem, no auge, aos outsiders, que compram nessa fase e vendem na baixa, quando os insiders estão retornando ao mercado.
Estes outsiders amadores, que compram por preço alto e vendem por outro mais baixo, são vítimas da fugaz euforia coletiva ou culpados individuais de sua carência de Educação Financeira? Será que eles não fizeram seu “dever-de-casa”, ou seja, a obrigação de todos os cidadãos de estudar, desde que o ensino é público e gratuito? E aprimorar sua qualidade com autoinstrução?
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