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  • Foto do escritorJoyce Ambar

Democracia, tempo de insurgência

Atualizado: 15 de ago.


Há um sentimento de que foi ‘por pouco’. Uma esperança de reconstrução da democracia reside em pelo menos duas visões de ‘urgência’ do novo governo: a volta da cultura e a valorização da educação. O mundo também sente falta do progressismo multilateral que sempre marcou a política do Itamaraty

Desde as eleições de 2018, com a entrada do Jair Messias Bolsonaro na Presidência da República Federativa do Brasil, o país vem passando por incontáveis situações que colocam a democracia em risco, assim como o que ocorre em países como Hungria, Polônia, Turquia e até o final de 2020 os EUA, sob o comando de chefes de Estado autoritários. Mas o que mais chama a atenção no Brasil é o flerte do bolsonarismo com o trumpismo e com regimes fascistas como o italiano, por semelhanças incontestáveis, além da aproximação muito forte do presidente com os militares.


Em incontáveis momentos, este incitou o golpe militar, fazendo homenagens para militares da ditadura de 1964, chegando a homenagear Ustra, o torturador da ex- presidente Dilma Rousseff, a perseguir minorias, a agir com negligência com os povos indígenas, como ficou evidenciado no que já está sendo chamado de genocídio dos ianomâmis, vítimas da maior crise de inanição dos últimos tempos no Brasil.


O descaso com este povo causou a morte desde crianças até idosos, sendo agora revelado que foram negados 21 pedidos de socorro ao governo federal, o que deverá embasar uma denúncia ao Tribunal Internacional de Haia contra Bolsonaro, segundo relatou Jamil Chade, do Portal UOL.


A democracia nas últimas décadas vem demonstrando fragilidade no mundo inteiro ao lidar com líderes autoritários de perfil fascista como Jair Bolsonaro. Os ataques de 8 de janeiro de 2023 ao Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal mostram a face desses movimentos que incentivam terroristas a mostrarem suas caras em redes sociais durante o ato, sem medo da lei e suas consequências, pedindo golpe militar, destituição e prisão imediata do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, hoje no seu terceiro mandato, tendo Geraldo Alckmin como vice.


Entre os terroristas chamados de bolsonaristas estão pastores, pessoas que se dizem religiosas e a favor da família tradicional, militares e polícia militar que no dia do ataque estavam em serviço e fizeram escolta para que a massa adentrasse a esplanada dos Três Poderes e destruísse tudo o que visse pela frente, como objetos do dia a dia, móveis, equipamentos, presentes que foram dados para os presidentes anteriores, além de obras de arte, entre elas um relógio de valor inestimável do século XVIII.


Toda essa destruição e o avanço de um “conservadorismo” que está mais para as avessas do que deveria ser, foi facilitado pelo aumento de militares no governo em cargos que deveriam ser dados a especialistas. Em quatro anos essa política capturou o Brasil e roubou a sua cultura, sua política externa, modificou a estrutura da educação, ignorou aqueles que precisavam de ajuda.


Foram quatro anos de descaso com a sociedade, de crimes contra a vida humana, principalmente quando a pandemia chegou em 2020 – tanto que a CPI da Covid, em 2021, não devemos esquecer, apontou nove crimes cometidos pelo presidente: charlatanismo; epidemia com resultado morte; infração a medidas sanitárias preventivas; emprego irregular de verba pública; incitação ao crime; falsificação de documentos particulares; crime de responsabilidade e crimes contra a humanidade que levou a 696 mil óbitos pelo país, além de crise institucional.


Sabemos que não é de hoje que o Brasil vem enfrentando uma crise política. Ela vem desde o processo de impeachment contra a presidente Dilma, a primeira e única mulher a ocupar este cargo no Brasil, episódio que, para além do ato político, evidenciou questões de gênero muito sensíveis em um país de patriarcado enraizado.


Após 2013, a população foi às ruas em muitas ocasiões pedindo justiça, e a Operação Lava Jato, que chamou a atenção do mundo todo, veio com força, à primeira vista para salvar o país da corrupção e iludindo muitas pessoas esperançosas de um país melhor e mais justo.


A consequência, como sabemos, foi a ascensão do bolsonarismo, um movimento sujo, sem escrúpulos, maldoso, que se vende também como salvador e protetor da família tradicional e que levou o Brasil a uma profunda crise democrática. Houve um enfraquecimento das instituições, e uma das melhores diplomacias do mundo, marcada pela vertente progressista multilateral, começou a entrar em decadência em 2018.


A política do Itamaraty, que agia com neutralidade em certos assuntos, em outros atuava para a preservação da paz e do progresso do sistema internacional, que defendia a manutenção das relações diplomáticas sul-sul, com China e EUA ao mesmo tempo, sem demonstrar desrespeito com os Estados soberanos, foi destruída pelo governo Bolsonaro.

A reconstrução da democracia no Lula 3 é indiscutível, com a volta da cultura, considerando ser ela o “último bastião da democracia”, conforme disse Marco Lucchesi, novo presidente da Biblioteca Nacional, em entrevista a Jamil Chade.


E também com a promessa de valorização da escola pública, considerando que a educação é a “máquina” que prepara as democracias, pois através da educação a população consegue ser mais participativa em questões políticas e sociais. Isso, para ficar em dois importantes pontos.


Há muito caminho pela frente, mas a democracia pode ser reestabelecida e fortalecida com o atual governo. Já há indícios dessa reconstrução, além do entendimento de que estamos vivendo uma situação de urgência – que, como tal, pede uma insurgência.


Joyce Ambar é graduada em Relações Internacionais pela Universidade Anhembi Morumbi. Atualmente se especializando em diplomacia corporativa e compliance pela PUC Goiás.


Crédito da foto da página inicial: Ricardo Stuckert

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