Publicado no Brasil 247 em 4-5-2017
1.O governo anunciou, com grande pompa, os resultados comerciais de abril. Conforme os dados do MDIC, as exportações brasileiras superaram as importações em US$ 6,96 bilhões, nesse último mês. Esse superávit, ainda de acordo com o MDIC, foi o maior para meses de abril, desde o início da série histórica, em 1989.
2.Ainda segundo o governo, as exportações somaram US$ 17,68 bilhões em abril e, com isso, tiveram um aumento de 27,8% sobre o mesmo mês de 2016. A média diária de exportações, por sua vez, somou US$ 982 milhões.
3.No acumulado dos quatro primeiros meses deste ano (janeiro a abril), a balança comercial registrou um superávit de US$ 21,38 bilhões, informou o governo. Tal resultado de US$ 21,38 bilhões também é o maior para o período de toda a série histórica, que começa em 1989. Até então, o maior superávit para o primeiro quadrimestre de um ano havia sido registrado em 2016. Na tabela abaixo, podem ser visualizados os dados completos.
4.Contudo, esse triunfalismo oculta dados que são, na realidade, negativos.
5.Em primeiro lugar, houve ligeiro recuo no quantum (quantidade) exportado no primeiro quadrimestre de 2017, em relação ao primeiro quadrimestre de 2016. Assim, a quantidade de produtos exportados recuou 0,3%, nesse período.
6.As exportações só aumentaram em valor. Isto porque os preços internacionais dos produtos brasileiros ficaram, em média, 22,1% maiores. Desse modo, foram registrados aumentos significativos nos preços dos seguintes produtos sobre o mesmo período de 2016: petróleo (+75%); minério de ferro (+127%), soja em grão (+10,8%), café em grão (+18,9%), açúcar em bruto (+46,1%), semimanufaturados de ferro e aço (+54,6%) e veículos de carga (+6,7), entre outros.
7.Mesmo assim, as exportações, medidas pelo seu valor, ainda estão abaixo do nível verificado em anos anteriores, como se observa perfeitamente, no gráfico abaixo.
8.Como se vê, embora as exportações tenham aumentado, em relação ao mesmo período de 2016, por causa do incremento dos preços internacionais de nossos principais produtos, elas continuam num patamar inferior ao verificado em 2011, 2012, 2013 e 2014.
9.O que explica, então, os superávits recordes? O que explica esses superávits não é um crescimento explosivo das exportações, como pode ser sugerido pelas matérias triunfalistas da mídia conservadora, mas sim a grande queda nas importações.
10.Como se observa nitidamente, as importações, embora tenham aumentado ligeiramente, em relação ao mesmo período de 2016, continuam num patamar extremamente baixo. Nessa série do gráfico, as importações do primeiro quadrimestre de 2017 somente são superiores às dos anos de 2009 (ano de grande queda no comércio mundial) e às de 2016.
11.As importações em nível muito baixo são um indicador de economia em recessão. Não se importa porque não há demanda, não há dinheiro e a atividade econômica continua deprimida.
12.Outro dado negativo, de profundo significado, tange à queda nas importações de bens de capital. Tais bens são utilizados, basicamente, em investimentos para aumentar a produção. Elaboramos gráfico com os dados do primeiro quadrimestre.
13.Houve, no primeiro quadrimestre de 2017, queda de 19% na importação de bens de capital, em relação ao primeiro trimestre de 2016. Esse é um dado muito ruim, que demonstra que os empresários brasileiros não estão se preparando para uma suposta futura retomada da economia.
14.Portanto, por trás do triunfalismo enganoso do governo ilegítimo, se esconde que as exportações não aumentaram em seu quantum; que elas continuam num patamar baixo, em relação a anos anteriores; que o aumento apenas em valor ocorreu em função exclusiva do incremento dos preços internacionais dos principais produtos de exportação; que os grandes saldos se verificaram basicamente pelo desempenho pífio das importações, demonstrando uma economia deprimida; e que as importações de bens de capital, indicador de retomada dos investimentos, caíram, relativamente ao ano passado.
15.Observe-se, por último, que as exportações respondem por apenas cera de 11% do PIB do Brasil, de modo que sua capacidade para alavancar o crescimento é reduzida. O que importa é a demanda interna, que continua deprimida.
16.Não há nada a comemorar.
Crédito da foto da página inicial: EBC
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