Frequentemente, economistas de vertente neoliberal utilizam o México como exemplo de integração internacional ou modelo de crescimento. No entanto, quais as diferenças entre o modelo adotado pelo México e pelo Brasil em termos de distribuição de renda e bem-estar para a população?
O Brasil Debate mostra que, enquanto o México concentra renda e os trabalhadores perdem participação no PIB, no Brasil a renda é distribuída, como já discutimos AQUI e AQUI.
Estudo publicado pela CEPAL analisa a participação dos salários no PIB a preços correntes em 15 países da América Latina de 1950 a 2010, uma forma de medir a distribuição da renda no país.
Em geral, na América Latina, entre os anos de 1950 a 1970, são registrados os maiores percentuais de participação dos salários sobre o PIB regional, com um valor mínimo nos anos 1980, outro aumento em nível menor nos anos 1990 e uma nova queda até 2005 (o que coincide com o auge do neoliberalismo na região), para constatar novamente uma tendência crescente.
A partir da segunda metade dos anos 2000, há tendência crescente da participação dos salários no PIB da América Latina como um todo, com maior contribuição a esse fenômeno sendo da Argentina e do Brasil. Na média se destaca o Chile, enquanto Colômbia, México, Panamá e Peru tendem a diminuí-la.
Salários menores: ditadura e anos 90
Para o Brasil, o estudo mostra que as mais altas participações dos salários sobre o PIB ocorrem na virada dos anos 1950-60, época marcada por maior poder reivindicativo dos trabalhadores, que termina com o golpe de 1964.
O Brasil (e Argentina) apresenta expressivo refluxo da participação dos salários em dois intervalos de tempo: durante a ditadura civil-militar e com o neoliberalismo sob os governos do PSDB, na década de 1990 e início dos anos 2000. A partir de meados da década de 2000, a participação salarial tendeu a crescer no Brasil.
O México, por outro lado, envolvido em acordos de livre comércio com EUA e Canadá e sob influência neoliberal desde os anos 1980, demonstra números continuamente decrescentes para os salários em relação ao PIB.
As brutais diferenças de índices entre Brasil, Argentina e México estão sintetizadas no gráfico abaixo: percebe-se que enquanto no Brasil e na Argentina dos anos 2000 há aumento da participação salarial no PIB, essa participação no México é declinante, com a adoção de medidas neoliberais exacerbando tendências de geração de desigualdade, com grande impacto no bem-estar da população e provocando migração massiva.
Estratégias de inserção internacional no sentido das praticadas pelos México são defesas abertas do programa de governo do candidato Aécio Neves (PSDB), o que consideramos que pode nos levar a imitar o modelo mexicano de aumento da desigualdade e piora dos índices sociais: na página 158 do programa de governo do candidato há uma aberta defesa da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), iniciativa fortemente rejeitada pela população brasileira.
A participação do Brasil na ALCA poderia ter significado a inserção externa do Brasil nos moldes do México e sua adoção poderia levar a um aumento da emigração de brasileiros, tal como no México, revertendo tendências atuais, como discutido AQUI . Cabe à população brasileira, novamente, rejeitar a proposta de retrocesso.
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