Sem rodeios. O que representa Bolsonaro? O puro fascismo? A covardia sob forma de (negação da) política? É um pouco de tudo isso, mas só um pouco. Bolsonaro não se enquadraria no nazismo ipsis literis. Não é nacionalista, não tem economistas ao seu lado da mesma estatura e genialidade de um Hjalmar Schacht, que pôs em prática um programa que liquidou o desemprego alemão em menos de dois anos. Bolsonaro é o oposto. Presta continência à bandeira norte-americana, promete enxugar o Estado, destruir direitos sociais e aprofundar o case brasileiro ultraliberal que está deixando qualquer Chicago Boy se achando um comunista. Se Hitler coesionou a sociedade alemã em torno de um projeto, Bolsonaro desintegrará o tecido social brasileiro.
No final das contas, Bolsonaro confirmará uma marca de nossa formação social: a fragilidade ideológica, ou, conforme Nelson Rodrigues, um “complexo de vira-latas”. Paul Baran, reconhecido economista (não desenvolvimentista, diga-se de passagem) fazia uma relação direta entre o subdesenvolvimento e a falta de uma ideologia de tipo desenvolvimentista capaz de unificar os países periféricos. Não sei quem prestou atenção no que recentemente Trump disse a respeito da dificuldade em negociar com o Brasil. Esta dificuldade acabará com Bolsonaro. Bolsonaro é claramente o candidato do imperialismo.
O professor Jessé de Souza diz que o escravismo marcou nosso país. Uma meia-verdade. A fragilidade ideológica, a meu ver completa essa marca. Mas a meia-verdade que ele expõe é suficiente para dizer que a nossa elite e grande parte da classe média tem ódio povo, aos pobres e negros em particular. Está aí algo que Bolsonaro soube catalisar. Marx dizia que a ideia de uma sociedade é a ideia passada adiante pela classe dominante. Daí o próprio povão, num outro “case” de fetiche da mercadoria, apoiar um candidato que não mente em relação às leis trabalhistas, décimo terceiro e outros direitos sociais: tudo isso deve ser destruído. Se junta isso com a mentalidade ultraliberal e escravocrata dos elementos do Estado a serviço da Operação Lava Jato, só poderia redundar num escravo expulso a porrada da porta da Casa Grande (Lula) e um líder branco dos capitães-do-mato (Sérgio Moro) dar a partida – em estreita colaboração com uma potência estrangeira (EUA) – à geração da besta capaz de liberar os piores instintos humanos. Marielle, vereadora assassinada brutalmente no Rio de Janeiro, teve sua segunda morte anunciada com a quebra ao meio de uma placa de rua em sua homenagem por dois “bolsanaristas fortões” com o sorriso aberto.
De repente descobrimos amigos de infância nossos, de colégio. Todos com seu ódio à flor da pele a tudo que se refira a PT, comunismo, negros, mulheres, feminismo, movimento LGBT etc. Terão a autorização para matar a partir do dia 1º de janeiro de 2019, caso a ignorância como argumento vença o que Barão de Mauá chamaria de “bom senso nacional”. O Brasil está à beira do abismo e de joelhos a uma potência estrangeira. O sonhado fim da política forjado pela Rede Globo e a equipe da Operação Lava Jato não será suficiente. Nunca fui sensacionalista, mas a falta de respostas historicamente comprovadas de como embicar para cima a relação entre a atual taxa de investimentos x PIB (atualmente em 16%, índice semelhante a um país em guerra civil) tem me deixado sem sono. A fina flor de nossas cadeias produtivas foi destruída por Moro e sua equipe. O assassínio e o mercado tornam-se uma só palavra: a proscrição do Brasil como nação está mais próxima do nunca. A história prova: qualquer povo, nação ou país que renunciou ao desenvolvimento e ao planejamento de seu desenvolvimento simplesmente pereceu. Parece ser este o destino do Brasil.
Aos patriotas sem vaidade, mando meu recado. Num segundo turno contra Bolsonaro não podemos nos dar ao luxo de escolher aliados ou discutir questões de política econômica. Não existirá espaço para chiliques pequeno-burgueses contra uma união nacional contra a ameaça fascista e de desintegração da nação brasileira. Salvação, no caso aqui, não é atributo religioso. Nosso país precisa ser salvo desta ameaça. Amo meu país, mais do que tudo, e essa possibilidade tem partido meu coração ao meio. É responsabilidade de todos os amantes da Brasil e de nossa nacionalidade a busca de liderança e eleitores de todas as forças que não ladearam com Bolsonaro. Não se trata de uma postura “centrista”, conforme alguns intelectuais de “esquerda” já começam a ventilar. Trata-se de uma prova de amor maior ao Brasil e nossa gente. A morte de meu país significa a minha própria morte. O Brasil é a razão maior de minha existência neste mundo.
Crédito da foto da página inicial: frame de vídeo do PT
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