Artigo de Sérgio Gobetti e Rodrigo Orair (com versão resumida disponível aqui e tema de entrevista reproduzida pelo Brasil Debate) questiona se a subestimação da renda dos mais ricos pelas pesquisas domiciliares no Brasil não compromete as conclusões sobre a queda da desigualdade no país na última década. O tema também tem sido tratado por outros autores, como Pierre Salama e Carlos Eduardo Silveira.
Gobetti e Orair apontam que, pela falta de dados tributários à disposição dos pesquisadores, as análises sobre desigualdade no Brasil se restringem às informações das pesquisas domiciliares, que subestimam os rendimentos dos mais ricos e principalmente a renda da propriedade do capital.
Na verdade, para os autores, há indícios de que as rendas do capital estejam crescendo mais que a renda do trabalho, e que seu grau de concentração esteja neutralizando a melhoria na distribuição dos demais rendimentos. Os autores mostram que são exatamente estes rendimentos – não captados apropriadamente nas pesquisas domiciliares – que estão liderando o movimento de concentração da renda em vários países.
Segundo os autores, as rendas da propriedade recebidas pelas famílias aumentaram de 13,0% em 2004 para 22,1% no ano de 2011 e os rendimentos do capital cresceram de 13,8% da renda disponível bruta das famílias para 19,4% entre 2007 e 2013.
A tabela abaixo, retirada do artigo em questão, também mostra um crescimento substancial do patrimônio das famílias (cerca de 12 pontos percentuais entre os anos em questão), o que é um indicativo de que o estoque de capital da economia como um todo também está crescendo de forma mais acelerada do que a renda.
A pesquisa assim sugere que a queda na desigualdade detectada pelas pesquisas domiciliares (como discutido aqui ) se restringe aos rendimentos do trabalho. Os dados também indicam que o estoque de capital privado tem crescido sistematicamente acima do produto e da renda nos últimos anos, evidenciando um processo significativo de acumulação do capital.
Tais resultados são importantes não só para a discussão sobre a queda da desigualdade no Brasil nos últimos anos, mas também por trazer novos elementos para a discussão de uma reforma em busca de mais justiça social no sistema tributário brasileiro.
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