Há meses, opiniões amplamente veiculadas na imprensa acenam com a necessidade de um duro ajuste na economia do País em 2015, que seria fundamental para recuperar a confiança dos mercados e retomar o crescimento econômico.
Esse ajuste se apoiaria em um penoso aperto fiscal com corte amplo dos gastos públicos, e na forte elevação da taxa de juros para sinalizar a intolerância do governo com a inflação.
Além disso,os preçosda energia deveriam ser reajustados e a participação dos bancos públicos no financiamento da economia ser reduzida.
Com o aumento da credibilidade da política econômica fruto do ajuste,aumentaria a confiança dos agentes, os investimentos seriam retomados e o crescimento retornaria ‘naturalmente’.
Impactos negativos
O tipo de medida sugerida, contudo,possui ao menos três impactos negativos sobre as decisões de produção e investimento que fazem com que dificilmente elas possam entregar os resultados prometidos.
Em primeiro lugar, o custo das empresas cresceria em razão da elevação dos preços da energia e dos custos financeiros,que aumentariam com a taxa básica de juros e com a redução da atuação dos bancos públicos na concessão de crédito direcionado em favor do financiamento privado realizado por um setor olipolizado.
O segundo impacto decorre da queda na demanda doméstica provocada pelo aumento dos gastos financeiros e com energia, que restringe a renda da população disponível para o consumo dos demais itens, e pela redução dos gastos do governo em um contexto de ajuste fiscal.
A demanda menor pressiona os custos com a diminuição das escalas de produção e reduz as perspectivas de lucratividade das empresas.
Além desses, a previsível apreciação cambial resultante da elevação da taxa de juros e da identificação de uma política econômica mais ‘amigável’ ao mercado reduziria ainda mais a competitividade da produção nacional, favorecendo sua substituição no próprio mercado interno pelo produto importado.
Com i.custos mais elevados, ii.demanda reduzida e iii.câmbio valorizado, por maior que seja a credibilidade na política econômica, a rentabilidade do investimento produtivo tende a ser baixa (especialmente quando comparada às taxas de juro maiores) ou mesmo negativa.
Nessa situação, ao contrário do que parecem crer os defensores das medidas ‘duras’, a postura natural do empresário não é a de investir e elevar a produção, que poderia encalhar gerando prejuízos,mas,ao contrário,a de reduzi-la,para adaptá-la às novas condições de demanda contraída.
Com o freio à atividade econômica fruto desse tipo de decisão, menos salários são pagos e lucros auferidos, reduzindo ainda mais a demanda e conduzindo o País à recessão.
No processo, as próprias receitas do governo também caem, pressionando o governo a reduzir seus gastos, o que tende, como ocorre hoje na Europa,a acentuar ainda mais a queda na atividade.
No curto e médio prazos, qualquer outro resultado do ajuste que não a recessão, mais ou menos profunda, é altamente improvável.
A espiral negativa eventualmente pode, com o tempo,vir a reduzir os salários de tal modo a recuperar parte da competitividade perdida em razão do aumento dos custos e da valorização cambial.
Com isso, e com a credibilidade do ajuste, esperam seus defensores o resgate dos investimentos e do crescimento econômico em um futuro não tão distante.
No entanto, além do sofrimento sempre injustamente distribuído que esse processo carrega, a retomada do crescimento nessas bases em um mundo em que países com baixíssimos custos salariais se inserem progressivamente na economia globalizada é, no mínimo,duvidosa.
Os benefícios apregoados do ajuste recessivo têm tudo para se mostrar apenas ilusões.
Crédito da foto: Tania Rego/EBC
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