Publicado em Luis Nassif Online em 09-10-2014
Em 2004, quando Tarso Genro era titular do MEC, o governo deu início à REUNI – Reestruturação e Expansão das Universidades. No mesmo ano, a Academia Brasileira de Ciências criou um grupo de trabalho para analisar a reestruturação. O resultado foi o documento Subsídios Para a Reforma do Ensino Superior, bastante crítico de toda a nossa estrutura universitária, na qual o aluno tem de fazer a opção por um curso já no concurso de ingresso, no qual recebe formação excessivamente especializada numa grade curricular muito rígida.
O projeto acadêmico proposto era semelhante ao criado na UFABC. Tarso Genro foi à Academia e declarou que aquele era o projeto dos seus sonhos, mas era politicamente inviável. A resistência, ficou claro, vinha de dois setores: a) estrutura burocrática já instituída nas universidades federais, partilhada em departamentos e dominada pelas escolas de prestígio, que são Medicina, Engenharia e Direito; b) a ideologia antimeritocrática do PT e dos sindicatos que dominavam o movimento docente. Era patético verificar que o ministro, que revelou boa visão e compreensão dos problemas, era refém dos oponentes da reforma necessária.
Em 2005 Haddad assumiu o MEC. Lula encomendou-lhe a criação da UFABC e ele teve a coragem para por sob teste a estrutura inovadora proposta pela Academia. Convidou Luiz Bevilacqua, membro do grupo de trabalho da Academia, para criar e coordenar a equipe formuladora do projeto acadêmico da UFBAC. Fui membro tanto do grupo de trabalho da Academia quanto da equipe formada por Bevilacqua. As divergências sobre projetos acadêmicos universitários são naturais e saudáveis, e as discussões internas do grupo foram muito intensas e até acaloradas. No final saiu um projeto realmente inovador, diante do qual ninguém fica neutro e os posicionamentos das pessoas tendem a ser extremos: alguns o amam, outros o odeiam. As pessoas menos inspiradas tendem a taxar como utópico tudo o que sai fora da sua própria experiência e isso determina a reação das pessoas diante da UFABC.
Estava claro desde o início que só o futuro diria quem estava certo, e também que a boa implementação do projeto era essencial para o seu eventual sucesso. Tivemos a sorte de ver o projeto sendo bem implementado. A UFABC ainda é pequena e não é bom que ela cresça açodadamente, por várias razões. Uma delas é que muitos dos professores contratados na UFABC demoram a absorver a nova filosofia e a nova estrutura e tendem a repetir lá dentro as práticas de suas universidades de origem. Por isso, as bancas dos concursos têm de ser compostas de pessoas que entendem e aprovam o projeto da UFABC e devem avaliar a capacidade de adaptação dos candidatos ao projeto e à estrutura. Os dirigentes se saíram muito bem em toda a empreitada. O atual reitor, Prof. Capelli, é extremamente qualificado e tem sido, desde seu ingresso na UFABC, um veemente advogado da estrutura. Ótimo cientista e ótimo gestor, convicto dos seus objetivos.
Além de méritos de caráter acadêmico, a UFABC tem perseguido com sucesso o uso compartilhado e por isso muito mais intenso dos equipamentos de pesquisa de maior porte, o que gera redução de custos. Os estudantes, logo adquirem espírito de trabalho em grupo e capacidade para colaborar em grupos multidisciplinares, o que tem sido muito apreciado pelas empresas que os contratam. O sucesso profissional dessa turma ajudará a promover a sua universidade.
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