O antipetismo é fruto de uma postura covarde e corriqueira: fulano quer criticar a República na figura do Partido dos Trabalhadores, mas se esquiva dos juízos acerca de outras agremiações, pois se considera “apartidário”. Em suma, quer que a dialética das discussões nacionais gire em torno exclusivamente do PT numa total incoerência com nosso sistema atual.
Eu mesmo fazia algo semelhante aos meus cinco anos de idade, quando brincava de pega-pega. Aqui em Minas a gente chama essa tática de “estar de altas”: você pode abdicar das regras do jogo a qualquer momento, dizendo, no melhor do mineirês, “tôdi altas”.
Obviamente, as crianças deixam para usar essa tática quando estão em perigo e, embora essa estratégia tenha o lado positivo da inclusão, nada mais ético e justo que ela seja deixada de lado quando os jovens alcançam a capacidade de competir de igual para igual.
Aparentemente, nossos eleitores participam dos processos eleitorais com uma estratégia semelhante a estar de altas, apesar de cada um ter o mesmo poder de voto. O que nos leva a um pleito distorcido no qual petistas são atacados, mas, quando tentam contra-argumentar, mostrando outras mazelas institucionais, acabam sendo ignorados e o debate verossímil não avança.
Existe uma grande ironia nisso, pois, os “apartidários” têm votos bem definidos e participam do processo de maneira firme e concreta (o whatsapp não me deixa mentir). Ou seja, vou negar até a morte que sou PSDB (só um exemplo, viu?!) e assim vou fugir de um trem de acusações – usando o mineirês de novo, mas dessa vez tem sentido literal – contudo, no dia da eleição, estarei com a disposição de um José Sarney para apertar o 45.
Considere, por exemplo, cinco crianças brincando de pega-pega (pegadores x fugitivos): PieTro, DEMosténes, PriScila Borges, PriScila De Brito e PaMela De Brito. Imaginem que o PieTro era fugitivo e foi pego. Agora, como pegador, toda vez que o ele chega perto de tocar alguém, a vítima em potencial grita “estou de altas”. Injusto não é?
Reparem, porém, que o debate sobre nosso sistema político se parece muito com esse cenário: quem nunca escutou “estou nem aí pra Arruda ou Azeredo” ou “tenho lado nenhum, só tem bandido e nenhum partido presta”, para depois ouvir “então, como estava falando, o Luladrão continua… ”
É fácil destacar pelo menos um grande problema nessa distorção, péssimo para o avanço natural da nossa democracia. Se as mazelas são concentradas numa só instituição, ao combatê-la somente, se tem a falsa sensação de dever cumprido. Com isso, toda uma estrutura viciada ganha sobrevida para continuar os malfeitos, pois nunca estará em foco. Por isso que grandes atores da política, como a mídia, o mercado e a oposição fomentam sem o menor pudor o raciocínio monoargumentativo “fora Dilma/PT” para tentar manter a lógica atual, extremamente vantajoso para eles.
Um exemplo disso está nas práticas de um dos políticos mais habilidosos e oportunistas do país, o presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Observem que o pupilo de PC Farias sempre reage as manifestações contra ele colocando a culpa no Partido dos Trabalhadores. Foi assim quando: (1) foi recebido com protestos na Paraíba; (2) criticou a posição da CUT frente ao PL 4330; (3) deu uma entrevista ao programa pingo nos is, culpando somente o PT pela crise nacional e (4) atacou a OAB por questionar as suas manobras.
Ademais, num movimento mais recente, imputou à presidenta e ao PT o fato de ter sido denunciado pelos também lobistas Júlio Camargo e Alberto Youssef, ignorando bisonhamente que todos os grandes partidos estão envolvidos em delações. Em sua entrevista de “rompimento” (como se alguma vez tivesse sido governo) bateu duro no partido da Dilma utilizando, inclusive, aquela falácia do “eles sabiam de tudo” que só encontramos no submundo da sujeira, ou seja, na Veja.
E dentro do anseio de manter o sistema como está, com os mesmos setores financeiros e políticos no comando, a estratégia do presidente da Câmara é exitosa, há de se confessar. Com o ódio ao PT aflorado, ele conseguiu, com manobras nada republicanas, aprovar o cerne da manutenção do poder pelo mercado financeiro que é o financiamento privado de campanha, onde empresas patrocinam políticos por trocas de favores.
Cunha é apenas um exemplo desse método nefasto e maniqueísta de se levar o debate apenas para um lado, dentro de um octógono de possibilidades. Numa democracia recente, é natural que as forças políticas se excedam, portanto, devem-se pensar correções sistematicamente. Todavia, fica impossível construir uma maneira ótima de evoluir analisando apenas uma ou duas variáveis do processo.
O pior é que o deputado carioca se trata de uma marionete facilmente descartável, portanto mais relevante que combatê-lo seria construir ações progressivas mais concretas como uma constituinte exclusiva para uma reforma política com a cara do povo, a democratização das mídias e novas políticas que diminuam a desigualdade, como taxação de grandes fortunas e heranças.
Por fim, fica a dica: nem que a alma penada suba a Serra ou Caia do precipício, ela vai fazer uma busca Geral do nosso espectro político e encontrar outro corpo para encarnar e tentar combater a revolução social que o Brasil tanto deseja. Sendo assim, cabe a nossa população valer-se de novas práticas para participar da política com mais razão e ética. Chegou a hora de crescer e condenar a tática de “estar de altas”.
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