Conteúdo especial do projeto do Brasil Debate e SindipetroNF Diálogo Petroleiro
Seguindo uma abordagem keynesiana, pode-se dizer que o investimento é a variável chave para explicar a dinâmica econômica e suas flutuações. Essa variável, entendida como uma decisão de gasto com ampliação da capacidade produtiva, é a mais volátil dentre as componentes da demanda agregada (as outras são consumo, gastos do governo, exportações e importações) e também a responsável pelo potencial de geração de postos de trabalho. Exatamente por suas oscilações e sua capacidade de gerar empregos, o investimento deve ser uma das preocupações centrais na gestão da política econômica.
Nas últimas décadas, a taxa de investimento da economia brasileira (investimentos em relação ao Produto Interno Bruto – PIB) se situou entre 15% e 20%, chegando em seus valores mais elevados dentro deste intervalo entre 2006 e 2008, anos em que o dinamismo dessa variável foi o mais positivo desde os anos 1990. No entanto, uma análise do investimento agregado de toda a economia pode mascarar alguns aspectos e é aí que se revela a importância da Petrobras.
Realizando-se um recorte setorial dos investimentos, a partir de dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA/IBGE), percebe-se que a taxa de investimento não tem comportamento homogêneo entre os setores industriais. O Gráfico 1 mostra este indicador para os setores selecionados, bem como a taxa de investimento média apresentada pela economia brasileira nos três quinquênios em questão (1999 a 2003 – baixo crescimento médio; 2004 a 2008 – período de crescimento médio mais elevado; e 2009 a 2013 – pós-crise de 2008).
Em primeiro lugar, observa-se que a taxa de investimento da indústria brasileira aparece menor que a taxa da economia como um todo, embora a trajetória seja a mesma. Fica evidente neste gráfico que a porcentagem do valor agregado que é destinada aos investimentos é bastante distinta entre os setores e que não é generalizado o movimento observado no total da indústria. Nota-se que à exceção dos setores de petróleo, extração mineral de ferro, metalurgia e celulose e papel (e automotivo no primeiro período), em todos os outros os valores observados são bem inferiores à média da indústria.
É notável também que os setores de refino de petróleo e de extração de minério de ferro, dominados respectivamente por Petrobras e Vale, apresentam taxas de investimento muito mais elevadas que os demais setores, bem como o total da indústria e taxa de investimento da economia geral.
Sobre os gastos com aquisição de ativo imobilizado, entendidos aqui como investimentos, no Gráfico 2 percebe-se a magnitude dos dispêndios realizados pela Petrobras frente à Vale e às demais empresas selecionadas, todas elas grandes empresas nacionais de capital aberto. É possível visualizar que de 2002 em diante os gastos da Petrobras foram superiores aos da soma das outras 72 empresas (excluindo aqui a Vale) e que essa diferença passa a ter maior dimensão após a crise de 2008.
Além disso, no ano de 2007, no qual os dispêndios com imobilizado da Petrobras não superaram a soma das outras 73 empresas (aqui incluindo a Vale), foi justamente aquele de maior volume de gastos realizados pela Vale. Ou seja, a preponderância dessas duas empresas fica evidente, sendo que a própria Vale em diversos anos também supera a soma dos investimentos das demais.
A análise dos dois gráficos leva a algumas observações importantes. A primeira delas diz respeito à extrema relevância de Petrobras e Vale entre os investimentos realizados por grandes empresas brasileiras de capital aberto desde 1999. Mesmo o Brasil apresentando uma taxa de investimento relativamente baixa para países em desenvolvimento (na China esta taxa chegou a 50% do PIB nos últimos anos), pode-se concluir que, excetuando-se as duas empresas citadas, as demais investem uma proporção ainda menor de seu valor adicionado.
O segundo ponto a ser destacado é que a preponderância da Petrobras se intensifica no período pós-crise de 2008. Mesmo considerando que o crescimento do PIB de 7,5% em 2010 foi mais elevado que o apresentado entre 2004 e 2008, o referido ano foi exceção no último quinquênio considerado. Ainda assim, os volumes de investimento foram maiores e, percebe-se, muito em função da presença da Petrobras e de seus gastos realizados no âmbito do pré-sal, de acordo com os relatórios anuais da empresa.
A partir dessas observações é possível chegar a conclusões pouco animadoras. Em primeiro lugar, não parece saudável que uma economia do porte da brasileira dependa tanto de uma ou duas empresas para manter seu nível de investimentos. Em segundo lugar, o cenário que vivenciamos a partir de 2014 mostrou-se bastante desfavorável à atuação da Petrobras em virtude das denúncias de corrupção e de sua paralisia com as investigações. Desse modo, houve prejuízos para a economia brasileira em relação ao potencial de geração de empregos, tanto os gerados diretamente pela Petrobras e sua cadeia como os indiretos, estes prejudicados pela queda do nível de atividade da economia.
Não se pode dizer que esta seja a única razão para o desempenho da economia brasileira após 2014, mas certamente contribui para explicar boa parte do problema.
Crédito da foto da página inicial: Agência Petrobras
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