Alguns setores da sociedade brasileira já se articulam há muito tempo para realizar uma derrubada de um governo democraticamente eleito, seja por impeachment ou mesmo “intervenção militar”: houve tentativa nas eleições desse ano, pode haver tentativa em 2018 e, nesse meio tempo, qualquer oportunidade que aparecer, mesmo em forma antidemocrática, certamente vai ser usada.
Demonstram-se, aqui, pelo menos três características genéricas de uma intervenção nesses moldes:
O conceito ilustrado acima é muito abstrato e a sua formulação pode ser tão vaga que chega a ser difícil enxergar alguma verossimilhança com nosso contexto atual.
Contudo, existe um braço muito poderoso na sociedade brasileira que pode dar a essas variáveis capacidade suficiente para qualificar um verdadeiro golpe: a mídia.
A mídia tem certa facilidade para atacar a democracia, pois conta com alta influência (como 4º poder) e não se submete a avaliação sistemática da população por meio de eleições e nem à competitividade de mercado, por ser um oligopólio.
Com a inserção da mídia, tem-se um retrato mais fiel ao que existe no País hoje:
As reformas progressistas e a opinião pública: a distorção da carga tributária, a participação popular bolivariana e o boicote ao plebiscito
Existem reformas cruciais para o desenvolvimento brasileiro, tanto para a diminuição da desigualdade social – a igualdade social é característica intrínseca de qualquer país com alta qualidade de vida -, quanto para melhorar as ferramentas democráticas e fortalecer nosso sistema político.
A motivação da mídia e de certos setores da sociedade atual é, assim, barrar essas reformas para que eles continuem a gozar dos benefícios e privilégios que têm por estarem no poder.
Exemplos de debates imorais sobre a reforma tributária e política são fáceis de encontrar na grande imprensa: Fernando Haddad, prefeito de São Paulo (SP), sofreu por sua tentativa de distribuir de forma socialmente mais justa o IPTU de São Paulo; a participação popular foi demonizada pela mídia e o plebiscito sobre uma constituinte única para a reforma política foi brutalmente ignorado.
Não surpreende, portanto, que boa parte da população brasileira seja contra as reformas, mesmo sendo o retorno totalmente positivo para o País.
Essa rejeição não ocorre por acaso, uma vez que ela foi bem construída pela mídia na medida em que as discussões acerca das reformas são realizadas.
A justificativa altruísta de dizimar a corrupção do País
A tarefa da imprensa aqui é atrelar as práticas de corrupção ao PT como se um partido somente fosse o culpado pelas ilegalidades praticadas no Brasil.
Assim, tem-se a justificativa perfeita de se acabar com esse mal apenas com a derrubada do governo. E a mídia faz isso sem o menor pudor, fugindo de um debate honesto (com raras exceções) sobre os vícios que ocorrem em todas estruturas do País, do privado ao público, nos três poderes e em qualquer nível.
Assim, parece normal chamar um mensalão de petista, mas se o PSDB comete algo parecido, vira “mensalão mineiro”. Se existe algum escândalo do governo federal, imediatamente ele ganha um marketing negativo para divulgação (vide “Petrolão”) mas se o ocorrido for do governo de São Paulo a mesma tática não se aplica.
Como bem apontou o atual governador gaúcho, Tarso Genro, generalizar a corrupção é uma tática fascista, de que a grande imprensa, propositalmente, usa e abusa.
Os heróis de capa de revista e seus seguidores contra a “vilania” petista
A construção de um “antipetismo” pautado no ódio e na intolerância tomou proporções tão grandes, que é comum encontrar manifestações extremamente violentas contra militantes (ou até simpatizantes) do Partido dos Trabalhadores.
Desse modo, fica mais fácil fazer a população se manifestar contra um partido somente, mesmo sendo nosso sistema político pluripartidário e complexo (com diversos tipos de coalizão).
Ademais, a imprensa ajuda a pintar certos agentes políticos como verdadeiros heróis quando lhe convém, como Gilmar Mendes, que já foi um coitadinho ilegalmente grampeado; Demóstenes, o mosqueteiro da ética; Caiado, libertador de cubanos e Bolsonaro o “exército de um homem só”.
Com esse apoio midiático, nossos “heróis” conseguem agir de maneira antiética sem serem questionados.
Sendo assim, é de se esperar que não pareça estranho Aécio agir como um candidato, apesar da sua recente derrota e, assim, continue tento visibilidade e prestígio. Não é difícil abstrair, assim, que 12 pedidos de impeachment possam parecer algo estreitamente normal.
A linha cíclica: o poder midiático em excesso e a falsa liberdade de expressão
Uma característica importante do nosso quadro atual, representado no desenho pela linha cíclica, é uma vantagem enorme que a mídia tem de recontar e adaptar muitas vezes a mesma história e, assim, tentar manter sua imagem imparcial e, consequentemente, seu prestígio.
Exemplos clássicos são fáceis de observar, como a bolinha de papel do Serra (que o jornal nacional teve que inventar um rolo de fita para se safar) e as manifestações de junho que, num momento era uma “briga fútil por vinte centavos” mas, depois de virar ameaça para a presidenta, virou um protesto legítimo e necessário.
E é incrível ver como a imprensa faz disso um ciclo, preparando, ainda, a sua própria defesa ao formar opiniões em massa.
A mídia criou, por exemplo, uma grande distorção do conceito de liberdade de expressão (como bem pontuou Nassif em sua entrevista para o filme “O mercado de notícias”) e, assim, consegue justificar suas ações acima de qualquer questionamento e regras, mesmo sendo ilegais e antiéticas.
Se existe hoje a possibilidade de golpe no Brasil, certamente a principal força dessa ação vem da nossa imprensa oligopolizada e mal regulada. Sem a democratização dos meios de comunicação, combater atitudes golpistas no País será como querer acabar com um formigueiro sem atacar a formiga rainha.
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