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A meta inflacionária aprofunda a recessão econômica

Publicado no Jornal GGN em 15-6-2016

O jornal VALOR de ontem, 14 de junho, publicou excelente artigo do Professor Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas, com mestrado na Cornell University, uma das universidades de maior reputação dos Estados Unidos. Nakano é um experiente economista prático, inovador, perspicaz e nada aferrado a cartilhas, vê a economia dentro de suas circunstâncias.

O título do artigo é ”OS RISCOS DA ATUAL POLÍTICA ECONÔMICA” levantando suas dúvidas sobre a eficácia da concentração de todo o poder do Banco Central na única função de trazer a inflação para o centro da meta, como se essa fosse a maior prioridade da política econômica brasileira em plena recessão e caminhando para uma depressão.

O trabalhador pode viver com alguma inflação, ou até muita inflação, se tiver emprego e renda, mas não pode sobreviver com moeda estável e sem emprego. Três gerações de brasileiros sobreviveram e muitos prosperaram de 1940 a 1994 com vários níveis de inflação, muitos fizeram suas casas, constítuiram família, colocaram filhos na universidade em meio a décadas de inflação, da qual sabiam defender-se com a “compra do mês” e os lotes de terreno a prestação em mais de cinquenta anos em que o Brasil conheceu pouco desemprego.

Parafraseando o professor Mario Henrique Simonsen, a inflação aleija e a recessão mata. Como é possível os comandantes da política econômica darem maior importância à inflação no centro da meta do que a recessão sem fim à vista e que já gerou 13 milhões de desempregados e milhares de lojas, escritórios e galpões por todo o País com placa de “ALUGA-SE’ ?

Como é possível tal inversão de prioridades? O mesmo pensamento obtuso teve o Secretário do Tesouro do Presidente Hoover em 1930, Andrew Mellon,  após o início da Grande Depressão, insistia na austeridade e nem pensava no relançamento da economia por medidas de estímulo monetário. O mesmo erro  perseguiu o Chanceler da Alemanha, Heinrich Bruning, que era economista por formação, ao dobrar a aposta nas medidas de austeridade numa Alemanha com 40% de desemprego logo após o início da crise de 1929. Seu programa de ajustes brutais criou o ambiente propício para a vitória do Partido Nazista nas eleições de 1933, os nazistas propunham reativar a economia através de grandes encomendas do Estado, o que de fato fizeram sob o comando de Hjalmar Schacht e em três anos, 1936, o desemprego tinha desaparecido na Alemanha por causa das compras de material bélico pelas forças armadas alemãs.

Nos dois casos, EUA e Alemanha, com programas de estiímulo monetário iniciados na mesma época, ao contrário dos programas ortodoxos de austeridade pregados pelos “economistas de mercado” da época (Mellon era um dos maiores banqueiros dos EUA e Bruning era anteriormente executivo de banco), nos dois países os programas arrojados de expansão e estímulos para gerar demanda criaram as condições para a saída da depressão com pouca inflação porque havia, como há hoje no Brasil, grande capacidade ociosa por toda a economia, havendo espaço para expandir a demanda sem efeitos inflacionários.

A saída rápida da recessão é uma necessidade social absoluta no Brasil de hoje. O País simplesmente não irá aguentar um programa violento de austeridade para atingir o famoso “centro da meta”, o que exigirá a continuidade dos juros nas alturas e a valorização do Real, duas medidas profundamente recessivas, anti-industriais e anti-emprego.

Então, a política de Meirelles-Goldfajn consiste unicamente em mais recessão para, por esse caminho infernal, fazer a inflação atingir o centro da meta, o que, segundo essa visão míope, atrairia novos investimentos. Ora, sem demanda não há razão para investir em nada, nem em fábricas, nem em prédios, nem em shopping centers.

A política no caminho certo seria rebaixar agressivamente a taxa básica Selic, abandonar a meta de inflação, desvalorizar o Real, o dólar a R$4,50 seria o ideal, iniciar um forte programa de investimentos públicos usando como lastro a redução do custo da dívida pública pela metade, o que economizaria R$300 bilhões por ano.

Saída de recessão exige ARROJO e não cautela, arrojo que Roosevelt e Schacht tiveram na década de 30 por caminhos diferentes mas usando a mesma ferramenta da criação de moeda para gerar demanda e reativar a economia.

Não estou sozinho nessa proposta, os melhores economistas de pensamento arrojado reunidos no Institute for New Economic Thinking (INET) tem essa visão, o Professor Nakano, que não é nenhum revolucionário, pensa na mesma direção, vê claramente os equívocos dessa política míope que prioriza a moeda e não a produção e o emprego.

Os economistas do grupo Meirelles-Goldfajn são antiquados, usam cartilhas velhas e gastas porque não conhecem outros e são medrosos, a moeda existe para gerar prosperidade e não para ser endeusada como fetiche, o monetarismo está fora de moda até na Universidade de Chicago, onde a teoria foi inventada, Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia e um dos fundadores do INET, diz que os economistas formados antes de 2008 não conseguem se reciclar e congelaram seu pensamento no currículo superado que lhes foi ensinado, não conseguem ver mudanças geradas por novos movimentos que se espalham pelo mundo e que exigem novas soluções.

Essa política de ver o problema errado e trabalhar em cima dele vai gerar um desastre social e político de grandes proporções. O discurso de posse de Ilan Goldfajn superou minhas piores expectativas, a cegueira é total.

Crédito da foto da página inicial: Wilson Dias/ABr

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