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A Espaçonave e a Crise


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A crise das mudanças climáticas fez o mundo aprender uma lição de grande importância: estamos todos juntos numa grande e bela espaçonave chamada Terra.

Essa metáfora eloquente e poderosa da espaçonave compartilhada, da qual não podemos escapar, no fez entender que temos responsabilidades comuns, porém diferenciadas, em relação ao meio ambiente do planeta. As emissões de um país afetam o clima de todos os demais países.

Mas o mundo precisa entender que tal metáfora se aplica também à economia, sociedade e à política, não apenas ao meio ambiente.

O desemprego europeu e norte-americano afeta a geração de empregos no Brasil e na China. O aumento da desigualdade nos EUA, na União Europeia e em outros países afeta a luta contra as desigualdades no Brasil. O doente de ebola na África representa um desafio a todo o sistema de saúde do mundo. A instabilidade no Oriente Médio é uma ameaça à estabilidade política do mundo.

Por outro lado, quando geramos empregos em nosso País, ajudamos a gerar empregos em outros países. Quando reduzimos as desigualdades no Brasil, contribuímos para reduzir as desigualdades em outras nações. Quando crescemos, contribuímos com o crescimento de outros povos. Quando curamos nossos doentes, ajudamos a preservar a saúde em outras nações. E, quando educamos a nossa população, contribuímos para tornar o mundo mais sábio.

Num mundo cada vez mais integrado, ninguém é pequeno o suficiente para ser ignorado e ninguém é grande o bastante para ignorar os outros.

Pois bem, o Brasil vem fazendo a sua parte, em todas as áreas, para o bem-estar da “espaçonave” e dos seus “tripulantes”.

No campo ambiental, o Brasil conseguiu reduzir o desmatamento em 79%, nos últimos 10 anos. Nosso país é o que mais contribuiu individualmente para a amenização do efeito estufa.

A redução brasileira de emissões de gases de efeito estufa equivale a toda a emissão anual do Reino Unido. Nenhum país chega perto dessa façanha. Muito menos aqueles que assinaram a recente Declaração de Nova Iorque sobre Florestas, inacreditavelmente elaborada sem nenhuma consulta ao Brasil.

No campo político-diplomático, o Brasil vem insistindo, de forma racional e construtiva, que o diálogo, o multilateralismo e o respeito ao Direito Internacional Público são as formas mais eficazes e as únicas moralmente aceitáveis para lidar com os conflitos no mundo.

As grandes potências tradicionais, os EUA, em especial, persistem, no entanto, nas intervenções militares unilaterais, que só agravam conflitos pré-existentes e criam graves crises humanitárias. Os casos da Líbia, do Afeganistão, do Iraque e da Síria são emblemáticos.

Sob a desculpa de se defender a democracia, criam-se monstruosidades políticas, como a do Estado Islâmico, grupo terrorista financiado por EUA e aliados. Com a escusa da “proteção aos direitos humanos”, promovem-se bombardeios indiscriminados que eliminam os titulares desses direitos.

E o Brasil também faz sua parte, no que tange à economia.

Após mais de seis anos de crise mundial, o Brasil tem as menores taxas de desemprego de sua história. Enquanto o mundo desempregava mais de 60 milhões de trabalhadores ao longo da crise, o Brasil gerava mais de 12 milhões de empregos. Na última década, geramos 20 milhões e meio de empregos formais, e diminuímos fortemente a proporção de brasileiros inseridos no mercado informal de trabalho.

Enquanto boa parte do mundo diminui os rendimentos do trabalho, o Brasil os aumenta. Com efeito, aqui os salários e os rendimentos das famílias vêm aumentando sistematicamente, mesmo com o recente arrefecimento das nossas taxas de crescimento econômico.

Retiramos 36 milhões de pessoas da pobreza extrema e fizemos ascender outros 42 milhões de brasileiros à classe média. Enquanto boa parte do mundo desenvolvido aumenta seus índices de desigualdade, o Brasil os reduz de forma célere, consistente e sustentável.

Hoje, a pobreza extrema está praticamente eliminada no País. E, no Mapa da Fome da FAO recentemente divulgado, a grande novidade é que o Brasil está, pela primeira vez na História, fora dele.

O país consegue fazer isso porque não adotou políticas ortodoxas e recessivas que só agravam a crise.

O Brasil resiste à crise com a força dos empregos, dos salários e do consumo de sua população. Implantamos um modelo de desenvolvimento socialmente inclusivo que se mostra muito mais eficaz que o fracassado modelo de desregulamentação econômica e financeira que enfrentamos no passado e que ainda impera em boa parte dos países mais desenvolvidos.

O Brasil resiste à crise, mesmo sendo por ela afetado, porque se recusa a sacrificar a sua população no altar de uma estéril e inútil austeridade, como fazem outras nações. O Brasil resiste à crise porque se recusa a ser governado por ideias e práticas fracassadas.

Vamos ser claros. A crise mundial foi provocada essencialmente pela desregulamentação econômica e financeira ensejada por uma ultrapassada concepção neoliberal e ortodoxa. Foi a especulação financeira sem travas e sem controles macroprudenciais, associada ao grande crescimento das desigualdades nos países desenvolvidos, que precipitou o mundo nessa crise.

No início da recessão mundial, havia a esperança de que as lições tinham sido aprendidas e que a comunidade internacional se encarregaria, de forma coordenada e conjunta, de impor controles nacionais e multilaterais ao sistema financeiro desregulado.

Entretanto, não foi isso que aconteceu. Em boa parte dos países desenvolvidos, tenta-se inutilmente superar a crise utilizando-se das mesmas práticas e ideias que lançaram o mundo numa recessão.  Tenta-se combater a recessão com a austeridade que a amplifica.

Tenta-se combater o desemprego com medidas que o provocam. Tenta-se combater a crise que, no fundo, é uma crise do aumento das desigualdades, com políticas que as acirram.

As grandes economias desenvolvidas não estão dando sua imprescindível contribuição para a superação da crise que elas mesmas provocaram. Essa é que a verdade. Assim como também é verdade que as suas populações vêm pagando o preço da crise com desemprego e diminuição de salários e direitos.

O único beneficiado por essas políticas fracassadas e por essas velhas ideias é o próprio sistema financeiro desregulado, que voltou a vicejar, mas que se recusa a regar a economia real e a gerar empregos e salários decentes.

O Brasil recusa essa lógica perversa que sacrifica empregos e salários e recompensa um sistema financeiro que se coloca acima dos interesses da população e que age de forma independente de governos democraticamente eleitos.

Mas o esforço do Brasil não basta. Não adianta o nosso e vários outros países, como muitos da América Latina, se empenharem em políticas anticíclicas e socialmente inclusivas, se as potências econômicas tradicionais remam no sentido oposto.

A crise mundial exige um esforço coordenado mundial para a sua superação. Essa responsabilidade cabe fundamentalmente aos governos legítimos. E aqueles que podem mais, os mais ricos, têm de fazer mais. A recusa em fazê-lo significaria renunciar à governança política da crise e entregá-la a um sistema financeiro desregulado que dela se beneficia.

O mundo precisa, urgentemente, de uma agenda anticrise e pró-desenvolvimento. Além de preservar o clima, temos também de preservar empregos, salários, direitos e a qualidade de vida gravemente ameaçada pela crise. Não podemos simplesmente preservar um planeta vazio de humanidade.

Em 2015, a ONU fará 70 anos. Nessa data, deverá se dar a definição da nova Agenda de Desenvolvimento Pós-2015.

É uma grande oportunidade para comprometer todos os países, especialmente os mais desenvolvidos, com a erradicação da pobreza em escala nacional e global, a promoção do emprego de qualidade em nível mundial, a diminuição das desigualdades em todos os países, incluindo os mais industrializados, no direcionamento do sistema financeiro à produção e aos investimentos, e na promoção do desenvolvimento sustentável em todas as suas dimensões, sociais e ambientais.

Além de metas de redução de emissões, por que não ter metas de redução de demissões? Além de salvar a biodiversidade, por que não salvar também empregos, salários, direitos e o futuro dos jovens que não têm perspectivas de construir uma vida economicamente ativa? Ademais de “esfriar” o planeta, por que não aquecer o seu desenvolvimento?

No que refere à economia, a espaçonave Terra não pode ficar mais entregue a bancos centrais independentes, a um sistema financeiro desregulado e a políticas monetárias e fiscais ortodoxas e ultrapassadas.

O mercado desregulamentado nunca foi um bom piloto. A mão invisível sempre acaba cometendo barbeiragens e provocando crises das quais é incapaz de sair por si só.

A espaçonave Terra precisa mesmo é de líderes democraticamente eleitos e efetivamente comprometidos com o bem-estar das populações. O resto é devaneio de terceira via e velha política com nova roupagem.

Crédito da foto: EBC

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