Publicado em O Cafezinho em 24-2-2015
Se ocorrer o que todos esperam hoje, a retirada da Petrobrás como operadora única do pré-sal ou a diminuição da sua participação mínima de 30% nas reservas, vamos escrever uma triste página da nossa história.
Daquelas que lamentaremos anos e anos, por séculos a frente.
Claro, não me surpreendeu o entreguismo latente do senado ontem, dia 23 de fevereiro de 2016, ao prosseguir com o regime de urgência do senador José Serra, do PSDB. Escrevi uma coluna, há duas semanas aproximadamente, atacando essa tática vira-lata, aparentemente imortal, de querer deixar os estrangeiros cuidarem das nossas riquezas, como se não fossemos capaz de tal.
Isso é fruto de um jogo geopolítico complexo e perigoso: o mercado do petróleo. Assim como a crise de 60 serviu para aumentar ainda mais o oligopólio das grandes empresas (sete viraram quatro irmãs) essa fase de dificuldade acaba por servir a interesses das grandes poderosas.
E não é à toa que as conversas reveladas do Wikileaks, acerca do projeto de partilha do pré-sal, demonstraram o desespero das maiores petrolíferas do planeta.
A diretora da Exxon, Carla Lacerda, foi bem taxativa: “a Petrobrás terá todo controle sobre a compra de equipamentos, tecnologia e a contratação de pessoal, o que poderia prejudicar os fornecedores americanos”.
~poderia prejudicar os fornecedores AMERICANOS~
Mas oras, a Carla foi bem sincera. Imagina um planeta onde o Brasil exporta não só óleo ou gás, mas também oferece tecnologia, equipamentos e conhecimento? Seria péssimo para as grandes concorrentes.
Patrícia Pardal, da Chevron, foi além: prevendo a perda iminente, ficou #xatiada pois o governo, nacionalista, agiu de maneira certa (e profissional) ao atender aos interesses do país. Mas como no mundo do petróleo não se pode ficar só na revolta, há de se ir a luta (ou a guerra) Patrícia foi encontrar uma asa amiga para reverter a perda das irmãs.
Sim, uma asa. Tucanos não tem ombro.
Aliás, duas asas: se por um lado Pardal foi pedir uma atuação mais profissional, Lacerda (a vida imita a arte com esse sobrenome nesse contexto, não é?), por outra asa, vai ficar #agradecida com todos aqueles equipamentos e tecnologias americanas aqui.
E, surpreendentemente (#sqn), o projeto que demonstra o desejo do Serra – anseio antigo comprovado há seis anos – apareceu como mágica assim que o entreguista foi eleito senador. Pior, foi colocado em regime de urgência sem a menor necessidade de se apressar qualquer discussão sobre reservas, afinal, ninguém no mundo em sã consciência quer vender um estoque num preço baixo histórico.
Não só foi tratado a toque de caixa, como foi atropelada qualquer tipo de discussão lúcida sobre o assunto. A comissão formada para debater o projeto sequer foi pra frente por falta de quórum.
Para deixar claro: um projeto que vai mudar uma lei que demorou quatro anos para ser construída e não teve a chance de mostrar suas consequências – a conjutura do petróleo é de cautela, não de agressividade – pode passar como um foguete, sem ser discutido entre os senadores e senadoras, quicá com a sociedade civil.
Para deixar mais claro: a pressa e falta de transparência e lógica do PLS 131 atende, justamente, as empresas que fizeram lobby contra um pré-sal para o Brasil que o Wikileaks revelou (companhias que são concorrentes da Petrobrás, diga-se de passagem). Conseguiram emplacar um projeto de lei com a mesma figura política que foi consultada no tempo das preocupações sobre o estrago que a partilha faria com os fornecedores americanos!
Algo do tipo: as estrangeiras querem explorar (em todos os sentidos), têm a ferramenta para fazer o país entregar (Serra, Renan e Cia) e vão fazer o possível salvar a pele delas, mesmo passando por cima de interesses nacionais (alguém aí viu no Wikileaks alguma preocupação com a nossa indústria?).
Isso não pode ser sério.
Crédito da foto da página inicial: EBC
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