Em 2018, o Brasil não parece capaz de encontrar motores internos que sustentem taxas de crescimento econômico vigorosas ou mudem o cenário dramático do mercado de trabalho. É o que argumentam Guilherme Mello, Arthur Welle e Ana Luíza Matos de Oliveira na Nota de Conjuntura Número 3 do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon) do IE/Unicamp.
Os autores relembram que a economia brasileira cresceu 1% em 2017, registrando quatro trimestres consecutivos de expansão, o que marca o fim da recessão, mas o ritmo lento da recuperação do PIB e do emprego faz com que se projete que apenas em 2022 o Brasil retomará o nível de produção de 2014, o que implica o mais longo período de recuperação de nossa história. A recuperação do nível de emprego e renda per capita verificado em 2014 deve ser em período ainda mais longo.
No entanto, além de lento, o crescimento econômico em 2017 foi concentrado temporal e setorialmente. A maior parte da expansão ocorreu nos primeiros dois trimestres do ano, impulsionado por dois fatores extraordinários: a supersafra agrícola e liberação dos saldos inativos do FGTS. Enquanto a supersafra promoveu um forte crescimento da agricultura e de alguns setores da indústria a ela ligados, a liberação do FGTS garantiu um fôlego adicional ao consumo das famílias, com impactos indiretos sobre a indústria, o setor de serviços e o endividamento das famílias.
Ao mesmo tempo, o crescimento lento e concentrado foi perdendo fôlego ao longo de 2017, com o PIB registrando taxas de expansão cada vez menores. No último trimestre de 2017, o PIB apresentou uma relativa estagnação em relação ao trimestre anterior. A baixa base de comparação, somada aos fatores extraordinários de crescimento nos dois primeiros trimestres, criaram um cenário positivo para os dados interanuais e/ou acumulados em doze meses, mas que apresentavam um quadro desalentador na comparação contra o trimestre imediatamente anterior.
Do ponto de vista social, o fim da recessão não se traduziu em reversão do quadro de agravamento das desigualdades, da precarização e da pobreza. No mercado de trabalho, mesmo com a virtual zeragem do saldo de contratados e demitidos com carteira assinada, o desemprego cresceu e houve aumento da precarização e dos vínculos informais.
O ano de 2018 se iniciou sem grandes alterações em relação ao ritmo de crescimento verificado ao final de 2017. Apesar das expectativas iniciais otimistas de boa parte dos analistas de mercado, que previam um crescimento próximo a 3% no ano, os dados disponíveis de janeiro, fevereiro e março apontam para um ritmo de crescimento mais lento que o esperado, frustrando particularmente as apostas na expansão do consumo das famílias. Os riscos a esse lento processo de crescimento não são desprezíveis e apontam para a fragilidade e baixa sustentabilidade da recuperação econômica em 2018, incapaz de encontrar vetores de dinamismo interno.
Assim, a aposta de que a mudança de governo em 2016 promoveria a retomada da confiança dos empresários e investidores, levando finalmente a uma recuperação sustentada do investimento e do crescimento econômico, se frustrou completamente. As medidas que levaram ao pequeno crescimento no início de 2017 não estiveram conectadas à estratégia liberalizante apregoada pelo governo Temer, sendo ou exógenas (como a supersafra) ou de incentivo ao consumo (como a liberação do FGTS), buscando reverter parte dos efeitos gerados pelo choque recessivo desde 2015.
O mercado de trabalho, até então visto como fonte de inflação e desajustes na economia brasileira, passa agora a ser a esperança da recuperação sustentada da economia brasileira. O legado da estratégia do choque recessivo combinada ao liberalismo que marca a gestão Temer/ Meirelles parece ser uma taxa de desemprego estruturalmente elevada e um ritmo de crescimento minguante, incapaz de reverter, ou mesmo administrar, a crise fiscal e social que o país adentrou desde 2015.
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Crédito da foto da página inicial: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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