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A 3ª Guerra Mundial: fundamentalistas ultrarricos e resistência nacionalista sino-russa

There’s class warfare, all right, but it’s

my class, the rich class, that’s making war, and we’re winning.”

Warren Buffett

1.Os ultrarricos são os poucos escolhidos

Há cerca de 10 anos venho tomando conhecimento da visão de futuro propagada nos ambientes corporativos como tendência inevitável. Cidades inteligentes, automóveis sem motoristas, drones entregadores, carros voadores, robôs, realidade ampliada etc.

Passou-se bom tempo até que eu percebesse que este mundo tecnológico e sustentável não estaria sendo pensado para o conjunto da sociedade humana hoje encarnada no planeta.

Ao contrário, a preservação das cidades e da própria industrialização parece estar firmemente ligada ao equacionamento da desigualdade e da pobreza no mundo. Só que não pelos caminhos experimentados pelo capitalismo histórico durante sua jornada pela Modernidade. Durante os últimos cerca de 500 anos acreditou-se que os Estados Nacionais e os mercados globais seriam capazes de promover bem-estar social para todos os habitantes do planeta. Ao menos em algum momento futuro, ainda que muito distante.

A conhecida frase em epígrafe, pronunciada pelo bilionário financista norte-americano em 2006, tornou-se emblemática. Justamente por sugerir que os muito ricos, detentores do comando sobre as megacorporações e políticas públicas, estariam atuando para diminuição da pobreza mediante eliminação dos pobres.

Ainda que esta estratégia não seja explícita, na prática parece tornar-se, a cada década “perdida” desde os anos 1980, o caminho crítico a ser seguido por um capitalismo que se transforma para sobreviver.

Segundo o World InequalityLab[1], em 2020 contabilizaram-se cerca de 540 mil famílias entre os 0,01% mais ricos do planeta. Nos EUA eram 14 mil famílias em 2012.

Mesmo para estes muito ricos, contudo, há a percepção, aliás correta, de que há um andar acima, onde desenvolvem-se atividades que exigem informações que permanecem circunscritas a este grupo.

O grupo do andar de cima, segundo a Forbes, é composto por um total de cerca de 2,1 mil famílias bilionárias em todo o mundo.

A influência destes bilionários não é pequena. Atuam nos principais setores industriais, comerciais e, principalmente, financeiro. Por esta razão, tornam-se influenciadores importantes entre os muito ricos em quase todos os países.

Enquanto que na Rússia & Ásia Central e na América Latina os 1% mais ricos acumulam 46% de toda a riqueza, na Europa o patrimônio dos muito ricos é de cerca de ¼ da riqueza total. China e EUA mantem-se próximos da África subsaariana em termos de desigualdade, cujos muitos ricos apropriam-se de cerca de 35% da riqueza no país.

Ou seja, uma fração mínima da população controla as maiores empresas e bancos em todo o mundo. A influência desses é maior onde os bilionários emergem da miséria (África e América Latina), mas também onde há mais prosperidade (EUA e China).

Na Tabela 1 é possível perceber-se que a riqueza relativa atual dos bilionários cresce a taxas muito superiores àquelas que mesmo os muito ricos têm acesso.

2.Apropriação da riqueza dos mais pobres através dos Estados Nacionais

O aumento da riqueza dos muito ricos acelerou-se consideravelmente após a inauguração do novo século. A explicação que se aplica a todos os países examinados é o simultâneo empobrecimento dos Estados Nacionais. Este empobrecimento, por sua vez, decorre do avanço das megacorporações sobre o patrimônio público, principalmente após 2008.

A manutenção de práticas de superávit fiscal, mesmo em períodos de contração da arrecadação pública, também tem contribuído para a diminuição da riqueza dos Estados Nacionais, mediante aumentos acelerados do endividamento público.

Conforme se pode perceber na Figura 1, nos países mais ricos a deterioração do patrimônio público mostrou-se mais intensa, levando-se a situações negativas nos EUA, Japão e países europeus. Ou seja, nestes países o apetite dos investidores não parece diminuir, apesar de claros indicadores de insolvência fiscal.

A explicação é que progressivamente os muito ricos beneficiam-se da perpetuidade crescente de uma dívida que vem sendo honrada mediante sacrifício crescente da população em geral. Enquanto os mais pobres continuarem a pagar impostos, a “pirâmide financeira” mantém-se em pé.

3.E os Estados Nacionais vão à guerra

Tão breve a primeira onda da Covid-19 foi contida no ocidente, os EUA passaram a pressionar o ambiente político já deteriorado entre a Ucrânia e a Rússia. O resultado esperado disso é a escalada de um conflito, que seria algo breve e regionalizado, para uma guerra global. O progressivo envolvimento dos EUA e da China demonstra que o conflito se estenderá por longo período, contribuindo para o empobrecimento acelerado dos países envolvidos diretamente com o conflito.

Enquanto isso, os países exportadores de armas, incluindo os europeus, parecem se beneficiar tanto das receitas de vendas quanto das sanções sobre empresas sino-russas.

Naturalmente, o desenrolar do conflito deve impactar negativamente a estabilidade política interna do Governo Russo, sorvendo recursos públicos valiosos para o exercício do poder centralizado.

A corrosão do capital político das elites políticas russas é esperada de ser inevitável. A favor disso são esperados esforços concertados dos próprios bilionários russos, na medida em que as elites políticas lá, como na China, se mantêm encasteladas nas poderosas estruturas públicas, a despeito de se manterem relativamente afastados os bilionários em seus respectivos países.

Mais que isso, as elites políticas russa e chinesa são hoje a âncora de “velhos modelos” nacionalistas, os quais contemplam o povo como parte do projeto de poder.

Enquanto isso, em quase todos os demais países do mundo, liderados pelos EUA, os bilionários detêm não apenas o poder econômico, mas são capazes de participar da montagem dos Estados Nacionais, de assegurarem políticas neoliberais, mais adequadas à diminuição populacional.

Em síntese, se estivermos corretos, o século XXI será marcado pelo esgotamento dos “velhos modelos” nacionalistas, com a remoção das elites políticas russa, primeiro, e depois chinesa.

Concomitantemente, é esperada a continuidade das ondas de doenças, resultado direto de engenharia biotecnológica aplicada às camadas mais pobres e frágeis das sociedades. Gradualmente, estas doenças irão promovendo a “seleção natural” dos humanos que entrarão no século XXII.

Se a natureza da guerra fosse reduzida ao conflito entre os EUA e seus aliados, contra a Rússia e a China, talvez até houvesse esperança para uma resultante civilizatória mais favorável. No entanto, há sinais claros de que as elites políticas na Rússia e na China estão a enfrentar o próprio capitalismo histórico, que se transforma para sobreviver no próximo século. Trata-se de conflito entre os bilionários, inclusive russos e chineses, contra uma utopia moderna e nacionalista que já não pode ser sonhada.

Crédito da foto da página inicial: Escritório presidencial da Ucrânia

[1] World InequalityLab, World InequalityReport, 2022.

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