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2015 e a tempestade perfeita

Se faltavam alguns ingredientes para concluir o processo de formação de uma “tempestade perfeita” para a economia brasileira, estes surgiram recentemente com: (i) a aceitação pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do pedido de impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff; (ii) a retirada do grau de investimento do país pela Fitch, que se somou, dessa forma, à decisão tomada pela Standard & Poor’s em setembro; e (iii) a elevação da taxa de juros dos Estados Unidos de 0,25% para 0,5% pelo Federal Reserve Bank, o Fed.

No caso do impeachment, mesmo que o mercado tenha comemorado o fato, com a bolsa subindo e o dólar caindo no dia do anúncio, o país pode se preparar para dias ainda mais difíceis, considerando que deve se acentuar até a conclusão deste processo, que promete ser longo, a paralisia que havia tomado conta da economia, dos investidores e da política econômica.

Já a perda do grau de investimento e a elevação dos juros americanos, mesmo que os investidores já tivessem precificado tais fatos e procurado antecipadamente se proteger, indicam bem maiores dificuldades para o Brasil em 2016, que vai também, aos poucos, prometendo ser um ano ainda pior que o de 2015 em termos da atividade econômica.

Tanto o aumento dos juros como a retirada do grau de investimento significam menos recursos externos, assim como mais cara a sua contratação.

A maior dificuldade está no fato de que os problemas têm se amontoado sem solução à vista para resolvê-los e ir deixando alguns para trás.

A inflação superou a casa dos dois dígitos no acumulado de doze meses até novembro e suas projeções para 2016 indicam que continua acima do teto da meta, com o Banco Central anunciando que poderá continuar elevando a taxa de juros para reduzi-la.

Caso se intensifique a desvalorização cambial neste novo cenário de aumento dos juros e de perda do grau de investimento, o que é o mais provável, pode-se descartar qualquer possibilidade de se começar a reerguer a economia e de se avançar em direção a uma solução fiscal para o país.

Em relação à atividade econômica, a queda real do produto de 2,8% para 2016, que vinha sendo projetada antes dessas notícias, deve continuar aumentando e se aproximando da prevista para 2015, atualmente estimada entre 3,5% e 4%. Se isso acontecer, o Brasil estará caminhando para uma recessão ainda pior do que a da grande depressão de 1930-1931 e só não deverá perder para a produzida pelo ex-ministro Delfim Netto, entre 1981-1983.

No que diz respeito à questão fiscal, a situação continuará dramática do ponto de vista do pensamento conservador. O déficit nominal que fechou outubro, no acumulado dos últimos doze meses, registrando um desequilíbrio de 9,5% do PIB – o maior do mundo – deverá continuar em progressão, com a manutenção e possibilidade de maior elevação das taxas de juros.

Diante disso, parece até cômico o esforço que vem sendo realizado para garantir a geração de um superávit primário de 0,7% do PIB, agora reduzido para 0,5% na votação do orçamento para 2016, diante deste rombo das contas públicas, muito pouco podendo contribuir para que a relação da dívida bruta em relação ao PIB não ultrapasse a casa dos 70%. A possibilidade de saída do ministro do ajuste fiscal, Joaquim Levy, diante da redução dessa meta, deve continuar mantendo instáveis os mercados e paralisada a política econômica.

De qualquer maneira, uma economia de recursos de 0,5% do PIB, se alcançada, mesmo que sacrificando gastos públicos essenciais para a economia e a sociedade, não será suficiente para satisfazer o apetite do mercado por mais juros e para deter o avanço da dívida. Por isso, não será nenhuma novidade, assim como ocorreu com a Standard & Poor’s e com a Fitch, se a Moody’s também retirar, mais rapidamente do que se espera, o selo de bom pagador do país.

Não se chegou a essa situação por acaso, nem porque a crise foi fabricada, como alguns ainda acreditam.

Erros de políticas econômicas, alternados com programas ortodoxos e expansionistas, sem pelo menos afrouxar e flexibilizar os laços com o capital, procurando sustentar de forma apenas aparente o satânico tripé macroeconômico, e com políticas redistributivas que não envolveram os mais ricos nos seus custos, repousam em suas raízes. O ajuste esquizofrênico de 2015 representa apenas mais um capítulo que se adiciona a este enredo para a deterioração mais rápida do quadro macroeconômico.

Por outro lado, se se trata de uma crise criada pelo capital, como alguns acreditam, este teria errado na dose e procurado cavar sua própria sepultura, o que é improvável pelos riscos que correria.

Dizer que a esquerda produz mal e distribui bem, e que a direita produz bem e não distribui, não é nenhuma novidade, e só revela as dificuldades, no sistema capitalista, para se conseguir atingir um maior equilíbrio entre o econômico e o social. Um equilíbrio essencial ao qual não se costuma dar muita atenção, nem de um lado, nem de outro.

Dos escombros da economia neste final de ano e das incertezas colocadas para 2016 pelo quadro político, não se consegue enxergar nenhuma luz no fim do túnel neste natal, a não ser que a “tempestade perfeita” se avizinha do país e que deve perdurar por um bom tempo. Só resta torcer para que ela consiga lavar, com a sua força, as impurezas e inconsistências de uma política econômica que tem conduzido a essa situação.

Crédito da foto da página inicial: EBC/Gabriel de Andrade Fernandes – Creative Commons

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